5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, é possível compreender que a organização e o ambiente de trabalho vivenciados na contemporaneidade trazem inúmeros prejuízos ao trabalhador. As enfermidades caracterizadas por debilitar de alguma forma o corpo físico já eram conhecidas. A inovação que merece atenção, sobretudo em relação ao século atual, está no gradativo aumento das enfermidades relacionadas aos aspectos psicossociais no ambiente de trabalho.
Não obstante o grande avanço da medicina e da psicologia, até mesmo no sentido de identificar tais enfermidades, verifica-se que não há a devida preocupação da maior parte das empresas com relação a essa temática. Devido a ausência de ações preventivas, o estresse, a síndrome de burnout, as lesões por esforço repetitivo, dentre outras enfermidades, avançam diuturnamente.
A mudança que se propõe não é apenas de estrutura física, mas sim de mentalidade de gestão empresarial, no afã de que o trabalhador seja, de fato, um elemento capaz influenciar nas decisões da organização. Conforme afirmado no terceiro ponto, é preciso, também, que a cúpula conheça a fundo a execução das atividades com o escopo de minimizar a distância entre a prescrição do trabalho e o trabalho real, evitando, assim, que mais enfermidades se proliferem no ambiente laboral.
Nesse aspecto, é papel do direito servir como instrumento para fazer com que se cumpram as determinações legais. As normas jurídicas trabalhistas protetivas do empregado não podem ser desrespeitadas. É função do Ministério Público do Trabalho fiscalizar a gestão das empresas e cabe a Justiça do Trabalho estabilizar as relações sociais, punindo aqueles que estimulam a exploração do trabalhador e deixam de reconhecer seus direitos.
Ainda com relação às normas jurídicas trabalhistas, é preciso ter em mente que algumas profissões merecem proteção especial, a exemplo dos que trabalham no setor de telemarketing, dos professores, dos agentes de saúde, dentre outros. Cabe ao Poder Legislativo, cuidar da matéria observando que, nesses casos, as enfermidades psicossociais aparecem com maior frequência. Por essa razão, é necessário ter bastante atenção, mormente quanto aos efeitos e consequências indesejáveis dessas síndromes.
Em síntese, embora continue havendo exploração do trabalhador nos tempos hodiernos, essa conduta constitui um caminho equivocado para o crescimento das organizações empresariais. Somente o conjunto de ações simultâneas em prol da conscientização desse fato e da valorização do material humano será capaz de conter o avanço das enfermidades decorrentes das relações de trabalho contemporâneas.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Everaldo Gaspar Lopes de. Direito do Trabalho e pós-modernidade. São Paulo: LTr, 2005.
BENEVIDES PEREIRA, Ana Maria. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
BERARDI, Franco. A fábrica da infelicidade: trabalho cognitivo e crise da new economy. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
BRITO, Jussara. Saúde do trabalhador: reflexões a partir da abordagem ergológica. In.: FIGUEIREDO, Marcelo. et. al. Labirintos do Trabalho: Interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
CONSENTINO FILHO, Carlo Benito. Os trabalhadores do conhecimento e o trabalho imaterial. As novas possibilidades de reinvenção das lutas coletivas. Recife: Programa de Pós-Graduação em Direito. Texto avulso. Dissertação de Mestrado, 2011.
DEJOURS, Christophe. Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2. ed. São Paulo: Fiocruz, 2004.
DEJOURS, Christophe. Novas formas de servidão e suicídio. In.: MENDES, Ana Magnólia. Trabalho e Saúde: o sujeito entre a emancipação e servidão. Curitiba: Juruá, 2008.
DOLAN, Simon. Estresse, Autoestima, Saúde e Trabalho. Tradução J. Simões. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (Org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007.
GAULEJAC, Vicent de. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. São Paulo: Ideias & Letras, 2007.
GLINA, Débora. Assédio Moral no Trabalho. In.: GLINA, Débora; ROCHA, Lya. Saúde Mental no Trabalho: da teoria à prática. São Paulo: Roca, 2010.
MARTIN, James. A grande transição: usando as sete disciplinas da engenharia da empresa para reorganizar pessoas, tecnologia e estratégia. São Paulo: Futura, 1996.
MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
MORAES, Paulo Wenderson Teixeira; BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt. As LER/DORT e os fatores psicossociais. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro v. 65, n.6, p. 712-725, 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-52672013000100002&script=sci_arttext . Acesso em 24 de junho de 2014.
MOTTA, Fernando Cláudio Prestes; VASCONCELOS, Isabella Gouveia de. Teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2006.
NEVES, Ilidio Roda. Ler: trabalho, exclusão, dor, sofrimento e relação de gênero. Um estudo com trabalhadoras atendidas num serviço público de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n.6, p. 1257-1265, jun, 2006. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000600015.Acesso em 26 de junho de 2014.
RIBEIRO, Renato Vieira. Teorias da administração. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.
SCHMIDT, Denise Rodrigues Costa et al. Qualidade de vida no trabalho em burnout em trabalhadores de enfermagem de unidade de terapia intensiva. Rev. Bras.Enferm, Brasília, v.66, n.1, p. 13-17, jan/fev, 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000100002. Acesso em 25 junho 2014.
SIENA, Cesar; HELFENSTEIN, Milton Jr.. Equívocos diagnósticos envolvendo as tendinites. Rev. Bras .Reumatol, São Paulo, v. 49, n.6, p. 712- 725, nov/dez , 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0482-50042009000600008. Acesso em 24 de junho de 2014.
TABELEÃO, Viviane Porto; TOMASI, Elaine; NEVES, Siduana Fachin. Qualidade de vida e esgotamento profissional entre docentes da rede pública de ensino médio e fundamental no sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.27, n.12, p. 2401-2408, dez, 2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2011001200011.Acesso em 26 de junho 2014.