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Caracterização da síndrome de Burnout como doença do trabalho:

uma visão ampliativa

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20/01/2015 às 09:00
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A Síndrome de Burnout é consequência do estresse laboral crônico, e está relacionada a desordens emocionais, físicas e mentais. É doença de caráter psicossocial que mais cresce no mundo e tem como fator de risco a organização do trabalho.

A Síndrome de Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional constitui um dos danos laborais de caráter psicossocial mais importante da sociedade atual. E tem sido qualificada por pesquisadores como “a praga do Século XXI”.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea tem sido marcada por mudanças decorrentes dos avanços tecnológicos, com a consequente globalização da economia, reestruturação do modo de produção e do trabalho, intensificação da concorrência, aumento da produtividade, com redução dos custos no fornecimento de bens e serviços.

As empresas, para melhorarem a produtividade e se manterem no mesmo nível das exigências da economia globalizada, impõem aos trabalhadores uma crescente pressão que se traduz em aumento das horas extras, aumento da carga de trabalho, metas abusivas impossíveis de serem cumpridas, trabalho por turnos ou noturno, dentre outras.

A tensão e o estresse no ambiente laboral tem elevado o diagnóstico de doenças mentais relacionadas com o trabalho, tais como a Síndrome de Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional.

A Síndrome de Burnout é consequência do estresse laboral crônico, e está relacionada a desordens emocionais, físicas e mentais. É doença de caráter psicossocial que mais cresce no mundo e tem como fator de risco a organização do trabalho.


2 SINDROME DE BURNOUT

A síndrome de Burnout constitui um dos danos laborais de caráter psicossocial mais importante da sociedade atual.

Este síndrome ha sido calificado en publicaciones recientes como “la plaga del siglo XXI” (FERRER, 2002). De acordo com World Health Organization (WHO) (1998), “a larger number of articles and books on the subject suggests that Burnout is major problem in health services today”.

The term ‘burnout’ has been used to denote a condition of emotional and mental exhaustion at work, and a phenomenon that significantly impacts modern culture (IACOVIDES, 2003).

Estudos realizados nos Estados Unidos da América indicam que a síndrome de Burnout constitui-se em um dos grandes problemas psicossociais atuais, desperta interesse e preocupação não só por parte da comunidade científica internacional, mas também das entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e europeias, devido à severidade de suas consequências, tanto em nível individual como organizacional (MUROFUSE et. al., 2005).

Em uma pesquisa recente patrocinada pela ISMA (International Stress Management Association), que verificou a questão nos Estados Unidos, Alemanha, França, Brasil, Israel, Japão, China, Hong Kong e em Fiji, demonstrou-se que ocupamos o segundo lugar em número de trabalhadores acometidos pela “Síndrome de Burnout”. Entre os trabalhadores brasileiros, apurou-se que 70% são afetados pelo stress ocupacional e 30% do total estão vitimados pela “Síndrome de Burnout” (FONSECA, 2013).

O termo "Síndrome de Burnout" foi desenvolvido na década de setenta nos Estados Unidos pelo psiquiatra Freudenberger (1974), que observou que muitos dos voluntários com os quais trabalhava, apresentavam um processo gradual de desgaste no humor e/ou desmotivação. Geralmente, esse processo durava aproximadamente um ano, e era acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que denotavam um particular estado de estar "exausto".

O termo Burnout é uma composição de burn = queima e out = exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. A expressão Burnout em inglês, entretanto, significa aquilo que deixou de funcionar por completa falta de energia, por ter sua energia totalmente esgotada, metaforicamente, aquilo que chegou ao seu limite máximo (BALLONE, 2014).

O termo Burnout não é sinônimo de “stress", "fadiga", "alienação" ou "depressão", embora a popularidade do termo ao longo dos últimos anos levou a alguma confusão. Burnout parece ser causada por esforços desproporcionalmente elevados que envolvem tempo, envolvimento emocional, empatia e a insatisfação com o resultado negativo, além de condições de trabalho estressantes decorrentes da alta demanda (IACOVIDES et al., 2003).

Burnout é conceituado por Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) como uma “psychological syndrome in response to chronic interpersonal stressors on the job”.

De acordo com Brasil (Ministério da Saúde, 2001, p.191), no Livro de doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde, em seu capítulo 10 que trata sobre Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho (Grupo V da CID-10), a sensação de estar acabado (síndrome de Burn-out ou síndrome do esgotamento profissional) (Z73.0):

É um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil.

De acordo Minardi (2010), o Burnout se apresenta como uma síndrome complexa que acarreta consequências muito variadas, atingindo a integridade físico-psicológica e comportamental do indivíduo.

Burnout é uma síndrome caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo. É um quadro clínico resultante da má adaptação do homem ao seu trabalho (FRANÇA, 1987).

A síndrome de Burnout pode ser entendida como decorrente da elevada carga de stress no ambiente de trabalho, imposta ao trabalhador, levando-o a um sério quadro patológico, caracterizado, entre outros, pela perda da motivação, de interesse e de expectativas (GARCIA, 2014).

O Burnout é um processo que se dá em resposta à cronificação do estresse ocupacional, trazendo consigo consequências negativas tanto em nível individual, como profissional, familiar, social (PEREIRA, 2010, p.18).

De acordo com Alvaréz (2011, p.1):

El síndrome de Burnout, también conocido como síndrome de desgaste ocupacional o profesional, es un padecimiento que se produce como respuesta a presiones prolongadas que una persona sufre ante factores estresantes emocionales e interpersonales relacionados con el trabajo.

Nesse sentido Nassif (2005, p.108), esclarece que a Síndrome de Burnout:

É um processo no qual um profissional, anteriormente empenhado, se desinteressa do trabalho em resposta ao stress e à alta tensão experimentada no trabalho. É caracterizado pelo exaurimento emotivo, pela despersonalização, pela reduzida realização pessoal. É uma síndrome em que há uma progressiva perda de idealismo, de energia, de objetivos. Nesse sentido o burn-out é considerado como o último passo de uma progressão de tentativas sem sucesso para enfrentar uma série de condições negativas e estressantes.

De acordo com Brasil (Ministério da Saúde, 2001, p.191), deve ser feita uma diferenciação entre o burn-out, que seria uma resposta ao estresse laboral crônico, de outras formas de resposta ao estresse.

Nesse sentido, ainda que não exista uma definição única sobre Burnout, mas há um consenso de que se trata de uma resposta ao estresse laboral crônico, contudo não deve ser confundido com estresse e nem tampouco tratá-lo como sinônimo.

No caso do Burnout, estão envolvidas atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho. É um processo gradual, de uma experiência subjetiva, que envolve atitudes e sentimentos que acarretam problemas de ordem prática e emocional ao trabalhador e à organização. Ocorre quando o lado humano do trabalho não é considerado. Já no estresse não estão envolvidos tais atitudes e condutas, pois se trata de um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho (MUROFUSE et. al., 2005).

O estresse é um sentimento ou manifestação que pode desaparecer após um período de repouso ou descanso e a Síndrome de Burnout apresenta-se como um estado crônico de estresse vivenciado no ambiente de trabalho e não diminui com descanso ou períodos de afastamento temporário do ambiente laboral, por ser exatamente este seu ambiente de incubação (MOREIRA et. al., 2009).

Existem quatro concepções teóricas que estabelecem a definição da síndrome de Burnout (PEREIRA, 2010).

a)           A concepção clínica: a síndrome de Burnout é caracterizada como um conjunto de sintomas, tais como: fadiga física e mental, falta de entusiasmo pelo trabalho e pela vida, sentimento de impotência e inutilidade, baixa autoestima; podendo levar o profissional à depressão e até mesmo ao suicídio.

O psicanalista Freudenberger (1974) é o autor mais representativo da concepção clínica, que vê a síndrome como um estado e não um processo. Segundo esta configuração, o Burnout é encarado como uma síndrome que ocorre em função da atividade laboral, porém por características individuais.

b)           A concepção Sócio-Psicológica: paralelamente ao trabalho realizado por Freudenberger, as psicólogas sociais Christina Maslach e Susan Jackson (1977) evidenciaram as variáveis socioambientais como coadjuvantes do processo de desenvolvimento do Burnout.

Desta forma, aspectos individuais associados às condições e relações do trabalho formam uma constelação que propiciaria o aparecimento dos fatores multidimensionais da síndrome, quais sejam: a exaustão emocional, a despersonalização e a reduzida satisfação pessoal no trabalho ou simplesmente reduzida realização profissional.

Conforme Moreno (2011, p. 141), a exaustão emocional:

É caracterizada por falta de energia e entusiasmo, por sensação de esgotamento de recursos ao qual pode somar-se o sentimento de frustração e tensão nos trabalhadores, por perceberem que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como faziam antes.

A exaustão é o elemento mais importante e central desta complexa síndrome, a manifestação pode ser física, psíquica ou uma combinação delas. Os trabalhadores percebem que já não têm condições de empregar mais energia para prestar uma assistência para seu cliente e familiares.

A despersonalização caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate os clientes, colegas e organização de maneira desumanizada. Nessa dimensão, a ansiedade, o aumento da irritabilidade, a desmotivação, a redução dos objetivos e do comprometimento com os resultados do trabalho, além da redução do idealismo, alienação e egoísmo, são manifestações mais comuns.

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A diminuição da realização profissional é caracterizada por uma tendência do trabalhador de auto se avaliar de forma negativa, tornando-se infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional, com consequente declínio no seu sentimento de competência e êxito, bem como de sua capacidade de interagir com os demais.

A concepção sócio-psicológica é a mais adotada atualmente na área de psicologia.

c)               A concepção organizacional: Baseados na Teoria das Organizações, para Golembiewski, Hiller & Dale (1987), o Burnout é a consequência de um desajuste entre as necessidades apresentadas pelo trabalhador e os interesses da instituição. Nesta teoria, entende-se que as pessoas veem a síndrome de Burnout como resultado das condições de estresse no trabalho e a tensão por ele gerada.

Conforme Ferrer (2002, p.495), a síndrome de Burnout:

No se trata únicamente de una disfunción personal, aunque en contados casos se ha descrito este origen, sino de un trastorno laboral que afecta las relaciones de la persona con su entorno de trabajo y que, además, puede tener repercusiones sobre su vida personal y social.

d)               A concepção Sócio-Histórica: Esta vertente prioriza o papel da sociedade, cada vez mais individualista e competitiva, mais do que os fatores pessoais ou institucionais.

Segundo Murofuse (2005), nesta concepção pondera-se que, pelo fato de as condições sociais não canalizarem os interesses de uma pessoa para ajudar outra, torna-se difícil manter o comprometimento de servir aos demais no trabalho.

2.1  FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL

É evidente que o trabalho não é apenas uma fonte de satisfação e de status socioeconômico, mas também de estresse. É nítido o seu contraste com o estresse proveniente de a vida ou do ambiente pessoal, lidar com o estresse proveniente do ambiente laboral é difícil, uma vez que não há muito a se fazer para modificá-lo (IACOVIDES et. al., 2003).

A ocorrência da Síndrome de Burnout tem sido descrita em diversas atividades, tais como: assistentes sociais, conselheiros, professores, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos e dentistas, policiais e agentes penitenciários, recepcionistas, gerentes, e até mesmo em donas de casa, em estudantes e em desempregados (WEBER E JAEKEL-REINHARD, 2000, p.513).

Ultimamente, as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas às avaliações (BALLONE, 2014).

Nesse sentido, Brasil (Ministério da Saúde, 2001, p.192) esclarece que:

Ultimamente, têm sido descritos aumentos de prevalência de síndrome de esgotamento profissional em trabalhadores provenientes de ambientes de trabalho que passam por transformações organizacionais, como dispensas temporárias do trabalho diminuição da semana de trabalho, sem reposição de substitutos, e enxugamento (downsizing), na chamada reestruturação produtiva.

De Acordo com Alvaréz (2011), é difícil estabelecer uma única causa para a enfermidade, contudo, estudos no campo da saúde e da psicologia organizacional têm encontrado fatores desencadeantes da síndrome de Burnout que merecem atenção especial. Abaixo estão os principais:

a)               Como primeiro agente de risco, a síndrome de Burnout está relacionada com atividades laborais que vinculam o trabalhador e sua atividade diretamente com clientes, condições em que o contato com eles é parte da natureza do trabalho. Isso não significa que ele não pode ocorrer em outros tipos de trabalho, mas no geral médicos, enfermeiros, consultores, assistentes sociais, professores, vendedores porta a porta, topógrafos, e muitas outras atividades e profissões têm risco aumentado de desenvolver, ao longo do tempo, a condição.

b)            O excesso de horas extras, o alto nível de exigência para se aumentar a produtividade e atingir metas impostas pelo empregador, geralmente impossíveis de ser cumprir pelo trabalhador, são também fontes de estresse.

Em geral, as condições acima mencionadas conspiram e podem desencadear a síndrome de Burnout em situações de excesso de trabalho, desvalorização do trabalho, trabalhos nos quais prevalece a confusão entre expectativa e prioridades, falta de segurança no emprego, e excesso de compromisso em relação as responsabilidades do trabalho.

Segundo Thomaé et. al. (2006) a síndrome de Burnout apresenta os seguintes fatores risco no ambiente de trabalho:

•        A falta de percepção de sua capacidade para desenvolver o trabalho;

•        O excesso de trabalho, a falta de energia e de recursos pessoais para responder as demandas laborais;

•        O conflito de papéis, a incompatibilidade entre a tarefa executada e a conduta que se desenvolve em função da expectativa sobre a mesma;

•        A ambiguidade, a incerteza ou a falta de informações sobre os aspectos do trabalho, tais como: a avaliação, a função, os objetivos ou as metas, os procedimentos, etc;

•        A falta de isonomia ou justiça organizacional;

•        As relações tensas e/ou conflituosas com os usuários/clientes da organização;

•        O impedimento por parte da direção ou superior hierárquico que o empregado exerça a sua atividade laboral;

•        A falta de participação na tomada de decisões;

•        A impossibilidade de progredir ou ascender no trabalho;

•        As relações conflituosas com companheiros e colegas.

A sobrecarga de trabalho, causada pela designação de muitas tarefas com prazos curtos para sua execução, e com muitas interrupções, a ambiguidade de prioridades, o nível de autoridade e de autonomia, a incerteza quanto ao futuro, o convívio com colegas insatisfeitos são fatores estressantes relacionados ao stress ocupacional que podem desencadear a Síndrome de Burnout (LIPP e TANGANELLI, 2002).

De acordo com Pereira (2010), alguns estudos, tanto empíricos como teóricos, têm sido realizados para detectar as variáveis responsáveis pelo desencadeamento do Burnout, que leva em consideração quatro dimensões: as características organizacionais, características pessoais, características do trabalho e as características sociais:

a) Características Organizacionais - burocracia, excesso de normas, falta de autonomia do profissional, comunicação ineficiente, mudança organizacional frequente e rigidez nas normas institucionais, ambiente de trabalho ou profissões que predispõe o empregado a riscos físicos e até de vida, clima que impera no ambiente laboral, impossibilidade ou inexistência de ascender profissionalmente;

b) Características Pessoais - indivíduos com baixa autoestima, controladores, que têm dificuldade em tolerar frustração, impacientes, esforçadas, passivas, perfeccionistas, rígidas, excessivamente críticas, com idealismo elevado, excesso de dedicação, alta motivação, pessoas muito exigentes consigo mesmas e com os outros;

c) Características do trabalho – sentimento de injustiça, de fata de equidade nas relações laborais, sobrecarga no que diz respeito tanto à qualidade como à quantidade excessiva de demandas, baixa expectativa profissional, tipo de ocupação do indivíduo, suporte organizacional precário, relacionamento conflituoso entre colegas, trabalho por turnos ou noturno, falta de controle e participação nas decisões, alta pressão no trabalho, conflito com seus valores pessoais ao ter que atuar profissionalmente contra esses princípios, e ausência de retorno ou feedback quanto aos serviços prestados.

d) Características Sociais – falta de suporte familiar e social, valores e normas culturais que o indivíduo possui e a tentativa de manutenção do status social em oposição à baixa salarial.

Praticamente todas as discussões sobre a Síndrome de Burnout propuseram que ela é um produto de ambos os fatores pessoais e ambientais. No entanto, a maior parte das evidências de pesquisas até o momento sugerem que os fatores ambientais, particularmente as características do ambiente de trabalho, estão mais fortemente relacionadas a Síndrome de Burnout do que com os fatores pessoais como variáveis ??demográficas e de personalidade. (BURKE, SHEARER AND DESZCA, 1984 apud LEITER e MASLACH, 1988, p.298).

Na síndrome de Burnout, diferentemente do estresse e da depressão, o contexto laboral possui determinação importante e decisiva no processo (BENEVIDES-PEREIRA, 2013).

Nesse sentido, a falta de respeito e dignidade com que é tratado o trabalhador, somado ao baixo investimento pelas empresas com o objetivo de proporcionar ao empregado um ambiente laboral equilibrado e saudável tem sido um importante fator desencadeante da Síndrome de Burnout, principalmente, quando o obreiro é exposto a uma alta carga de estresse emocional, o que produz um processo de sofrimento com consequências na saúde mental do trabalhador.

2.2  QUADRO CLÍNICO

O seu progresso é insidioso, mais não aparece de forma súbita, mas emerge de forma paulatina, com aumento progressivo de sua severidade. É um processo cíclico, que pode repetir-se várias vezes ao longo do tempo, de modo que uma pessoa pode experimentar as três dimensões diversas vezes em diferentes épocas da sua vida e no mesmo ou em outro trabalho (THOMAÉ et al., 2006).

De acordo com FERRER (2002) são características definidoras da Síndrome de Burnout:

·         Stress crônico e progressivo que se desenvolve ao longo de um a três anos;

·         Não costuma ser desencadeado por sobrecarga de trabalho quantitativo, mas geralmente a partir de elementos qualitativos;

·         As pessoas afetadas estavam fortemente motivadas anteriormente ao seu surgimento;

·         Os primeiros sintomas são a diminuição da eficácia e eficiência, com uma sensação de esgotamento físico e emocional injustificado, seguido do empobrecimento das relações pessoais, que dão lugar ao aumento do absenteísmo mental (desconexão das tarefas) e físico, com atrasos progressivamente maiores, aumento dos erros e das queixas;

·         São perdidas as razões e as motivações que justificavam a dedicação e esforço;

·         Não se recupera o estado habitual com o descanso, como seria no caso da fadiga.

Conforme Thomaé e et al. (2006), a sintomatologia da Síndrome de Burnout se sistematiza em quatro níveis clínicos:

a)    leve: queixas vagas, cansaço, dificuldade para levantar-se pela manhã.

b)    Moderado: cinismo, isolamento, desconfiança e negativismo.

c)    Grave: lentificação do pensamento, automedicação com psicofármacos, absenteísmo, abuso de álcool e drogas.

d)    Extremo: isolamento acentuado, colapso, quadros psiquiátricos, suicídios.

Ainda, segundo o autor supracitado, analisando os sinais e sintomas destacam-se:

a)    Sinais e sintomas físicos: cefaleias sensoriais, fadiga, esgotamento, insônia, transtornos gastrointestinais, dor generalizada, mal estar indefinido;

b)    Sinais e sintomas psíquicos: falta de entusiasmo e interesse, dificuldade de concentração, permanente estado de alerta, irritabilidade, impaciência, depressão, negativismo, frustação, desesperança, desassossego.

c)    Sintomas laborais: ausência ao trabalho, não compartilham nem delegam trabalho.

Os primeiros sentimentos negativos são direcionados aos desencadeantes do processo, ou seja, clientes e colegas de trabalho, posteriormente atingem amigos e familiares e, por último, o próprio profissional.

 

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Sobre a autora
Carla da Silva Pontes

Advogada em João Pessoa (PB). Especialista em Direito Civil, Direito Negocial e Imobiliário; Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho. E-mail [email protected]

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

PONTES, Carla Silva. Caracterização da síndrome de Burnout como doença do trabalho:: uma visão ampliativa. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4220, 20 jan. 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/35655. Acesso em: 22 nov. 2024.

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