Através da globalização e desenvolvimento de tecnologias no mundo, o crescimento dos países passou a ser pautado pelo nível de investimento em pesquisa e inovação. Diante deste paradigma, o governo federal brasileiro, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), começou a utilizar o mecanismo do benefício fiscal com intuito de incentivar investimentos em inovação com foco no setor privado, visando o aumento da competitividade das empresas brasileiras em um mercado cada vez mais diversificado e exigente.
Com isso, houve uma tentativa de aproximação entre as empresas privadas e as universidades, juntamente com institutos de pesquisa, potencializando os resultados em P&D. A Lei 11.196/05, que ficou conhecida como “Lei do bem”, cria a concessão de abatimentos fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica.
Como conceito de inovação tecnológica, temos:
“concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado”.
Entretanto, há ainda grande dificuldade em se esclarecer a definição das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento de Inovação Tecnológica e sua aplicação na prática por esta possuir significado extremamente amplo. Sendo assim, o governo, ao criar a Lei do Bem, utilizou-se das definições obtidas no Manual de Frascati (reconhecido internacionalmente) para esclarecer o que realmente faz ou não parte de Pesquisa e Desenvolvimento.
Com base neste Manual, temos que o conceito de P&D é subdividido em quatro grupos:
I – pesquisa básica dirigida – atividades executadas com o objetivo de adquirir conhecimentos quanto à compreensão de novos fenômenos, com vistas ao desenvolvimento de produtos, processos ou sistemas inovadores;
II – pesquisa aplicada – atividades executadas com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, com vistas ao desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e sistemas;
III – desenvolvimento experimental – atividades sistemáticas delineadas a partir de conhecimentos preexistentes, visando à comprovação ou demonstração da viabilidade técnica ou funcional de novos produtos, processos, sistemas e serviços ou, ainda, um evidente aperfeiçoamento dos já produzidos ou estabelecidos; e
IV – serviços de apoio técnico – serviços indispensáveis à implantação e à manutenção das instalações ou dos equipamentos destinados, exclusivamente, à execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento ou inovação tecnológica, bem como à capacitação dos recursos humanos a eles dedicados, diretamente vinculados às atividades relacionadas nos itens I a III.
Infelizmente, apesar da estagnação econômica do Brasil e do mundo, o setor privado brasileiro não possui plena ciência do seu potencial inovador e de quanto isto poderia acarretar na redução de seus custos tributários. Esta contradição está constatada nos últimos relatórios do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) sobre a aplicação da Lei do Bem no Brasil. Apesar de contar com um ativo corpo de pesquisadores, responsáveis pela publicação de 40 mil artigos científicos em revistas especializadas a cada ano, o Brasil permanece inovando pouco.
Tamanha discrepância se deve ao fato de que a maior parte dos pesquisadores brasileiros (80%) esteja vinculada às universidades e aos órgãos públicos, enquanto que apenas 20% se concentra em empresas do setor privado. Contrapondo este cenário, os países com alto índice de inovação e competitividade apresentam exatamente o oposto, uma vez que a iniciativa privada, nestes países, absorve, de forma rápida e significativa, os cientistas, engenheiros e pesquisadores recém-formados.
Apesar das evidentes vantagens oferecidas aos empresários inovadores, a Lei do Bem ainda é subestimada diante do potencial brasileiro. Conforme relatórios do MCTI, das mais de 7 milhões de empresas brasileiras, cerca de 30 mil declaram investimentos em P&D sem utilização do benefício. Dessas, o MCTI calcula que mais de 4 mil estariam aptas a reivindicar o benefício fiscal.
De forma muito clara, fica fácil concluir que a grande barreira aos empresários brasileiros, além dos requisitos formais para a obtenção do benefício, é a desinformação.