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Cláudia Cruz será 1ª dama usando bolsas e sapatos de Paris de Maria Antonieta

14/04/2016 às 10:38
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Se aceitássemos a teoria que diz que a corrupção é útil, a sua personificação seria vista na esposa de Eduardo Cunha, que desfilará pelo Planalto usando bolsas e sapatos de Paris (de Maria Antonieta), após o provável impeachment de Dilma e a posterior cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE.

Se fosse válida, a teoria que diz que a corrupção é útil (porque faz circular o dinheiro surrupiado) encontraria comprovação na pessoa de Cláudia Cruz que, como se sabe, é mulher do Eduardo Cunha. Com o impeachment da Dilma que se avizinha, este passa a ser um tipo de “vice-presidente” (sucessor direto do Temer). No lugar do Temer ele pode eventualmente ocupar a Presidência da República. E aí, Cláudia Cruz, que, com nosso dinheiro, se tornou titular de contas secretas na Suíça, será nossa 1ª dama. Cada país tem a sua Maria Antonieta que não merece.

Um governo corrupto (PT) está sendo derrubado (tardiamente) por um impeachment desgraçadamente presidido por um deputado corrupto (Eduardo Cunha – já denunciado no STF por ser titular de contas secretas na Suíça).

Dos deputados e senadores que vão muito provavelmente aprovar o impeachment, quase metade tem contra si ou uma investigação criminal ou um processo criminal (ver Congresso em Foco). Não fosse a lentidão do STF, muitos já estariam, inclusive, condenados.

O novo presidente, Temer (se o impeachment se consumar, como está previsto), também é acusado de corrupção (por Delcídio, inclusive), mas, sobretudo, por fazer passar medidas provisórias favoráveis a seu financiador de campanha (Grupo Libra), que é um conglomerado de logística que tinha dívida milionária com o governo e foi beneficiado, violando norma legal, com novo contrato para prestar serviços no porto de Santos[1]. A brecha (em favor do grupo) foi incluída numa medida provisória feita à medida para ele.

Se Temer, por qualquer motivo, deixar a Presidência da República (definitiva ou temporariamente), nosso Presidente será Eduardo Cunha. A primeira dama, nessa hipótese, será Cláudia Cruz, que gastou R$ 64 mil reais em 3 dias, em Paris[2]. Festança com nosso dinheiro, claro.

Se Cunha não puder assumir, por qualquer motivo, a presidência, nosso presidente será Renan Calheiros (que tem denúncia pendente no STF há mais de 1.100 dias, sem o devido recebimento, por corrupção praticada junto à empresa Mendes Júnior). A crise institucional é profunda: sem o despudor das castas políticas e econômicas, bastante acostumadas com a impunidade, até o Judiciário faz parte do jogo maldito (dolosa ou negligentemente).

Se o impeachment é o 3º turno, a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE é o 4º turno. As provas de que a campanha eleitoral de 2014 foi criminosa começam a brotar de mil fontes. Somente na usina de Belo Monte a cota do PT e PMDB (de 1%) chegou a quase R$ 15 milhões em propinas para a campanha de 2014.

Mais: o combinado foi pagar a propina como “doação eleitoral” (declarada junto à Justiça Eleitoral). Isso é o que estão afirmando os executivos da Andrade Gutierrez.  O mesmo procedimento aconteceu com a propina do Complexo Petroquímico do RJ. Propina convertida em “doação eleitoral” é lavagem de dinheiro. Leia-se: crime cometido “dentro da lei”.

Na Petrobras, da mesma maneira, boa parte do percentual da propina (de 1% a 3%, para PT e PMDB) foi transformada em “doação eleitoral” (delação de Ricardo Pessoa). A mesma coisa ocorreu com o ex-senador Gim Argello (já preso), que chegou a distribuir o dinheiro da propina das empreiteiras para todos os partidos da sua coligação: DEM, PR, PMN, PRTB e PTB. Como se vê, era e é uma prática corrente a transformação de propinas em doações “legais”.

Todo esse modus procedendi deve ser levado em conta pelo TSE para promover a cassação da chapa Dilma-Temer, que está sendo fulminada por outras provas, como é o caso da empresa Pepper (em fase de delação), que recebia dinheiro em caixa 3 (diretamente, sem passar pelos candidatos). Pepper, que cuida das redes sociais, recebeu dinheiro, dentre outras, da empreiteira OAS (que também está em fase de colaboração).

O sistema político brasileiro está morto. Mas se trata de um cadáver insepulto. Impeachment, cassação do TSE e nosso voto: assim consumaremos o sepultamento desse abjeto sistema, fazendo a faxina geral de que tanto necessitamos.  A História mostra que, depois de longos períodos de caos e corrupção sistêmica, há melhoras no comportamento humano. Isso nos faz supor que o Brasil, depois de todo esse vendaval da Lava Jato, vai aprimorar seus sistemas de controle e de prevenção da corrupção e, assim, será menos subdesenvolvido, menos desigual e menos miserável.

CAROS internautas que queiram nos honrar com a leitura deste artigo: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem, mas, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defendem. 

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Notas

[1] Ver http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-doador-de-campanha-de-temer-recebe-beneficio-de-aliado-em-porto,10000006082, consultado em 13/04/16.

[2] Ver http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/03/30/banho-de-loja-da-mulher-de-cunha-como-gastar-r-64-mil-em-3-dias-em-paris.htm, consultado em 13/04/16.

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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

GOMES, Luiz Flávio. Cláudia Cruz será 1ª dama usando bolsas e sapatos de Paris de Maria Antonieta. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4670, 14 abr. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/48213. Acesso em: 23 dez. 2024.

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