Pagamento do adicional de insalubridade no subsídio

27/03/2017 às 11:29

Resumo:


  • O exercício de funções insalubres, penosas ou de contato permanente com substâncias tóxicas é gratificado com vantagem salarial.

  • O adicional de insalubridade visa compensar financeiramente os servidores que trabalham em condições perigosas para sua saúde.

  • A Constituição Federal prevê o direito ao adicional de insalubridade, mesmo para servidores públicos remunerados por subsídio.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O referido adicional não pode ser negado ao servidor que labore em condições insalubres, pois este nada mais é do que uma forma de compensação financeira pelo agente colocar sua saúde em risco durante seu período laboral.

O  exercício de função insalubre,  penosa ou de contato permanente com substâncias tóxicas,  agentes biológicos ou com risco de vida é gratificado com percepção de vantagem salarial.

O pagamento do adicional objetiva a compensação pecuniária do exercício pelos servidores de funções com natureza anormal, enquanto efetivamente persistir a prestação de serviço, de modo habitual e intermitente, não ocasional, em atividades perigosas sob a exposição direta, necessária ou mesmo possível por acidente humano, maquinal ou natural, de agentes físicos, químicos e/ou biológicos que causam risco de vida.

O problema surge quando a Administração deixa de indenizar o servidor pelo trabalho insalubre, ao argumento de que sua remuneração se dá por meio de subsídio, vez que a Constituição Federal assim determina.

Tal fato é um erro da Administração Pública, tendo em vista que é possível a percepção de adicional de insalubridade mesmo que o servidor público esteja enquadrado no regime de subsídio.

O referido adicional, enquanto direito social fundamental, também previsto na Constituição, não pode ser negado ao servidor que labore em condições insalubres, pois este nada mais é do que uma forma de compensação financeira pelo agente colocar sua saúde em risco durante seu período laboral.

Se o servidor está exposto de todas as formas possíveis a condições insalubres, colocando a sua própria vida em risco, não é viável que não receba o adicional de insalubridade.

É fato que a Constituição Federal estabelece essa vedação, litteris:

“Art. 39...

§ 4°. O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

Todavia, necessário consignar, também, que a Carta Magna dispõe, em seu artigo 7o, que:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

Veja-se que o artigo 7º da Constituição também é extensível aos servidores públicos. Assim, ao titular de carreira remunerado exclusivamente por subsídio fixado em parcela única é vedado o acréscimo de qualquer outra espécie remuneratória, posto que é alegado que referido subsídio “incorporou” as vantagens que esses servidores porventura tivessem.

Ocorre que a referida incorporação do adicional no subsídio é falaciosa, não indenizando efetivamente o agente que labora em função insalubre.

Ademais, estamos diante de um conflito de normas constitucionais, que devem ser analisado à luz do caso concreto.

Independente da solução a ser adotada nesses conflitos sempre existirá a restrição, por vezes total, de um ou dois valores. Posto que, todas as circunstâncias envolvendo colisão de direitos são de complexa solução, dependendo para se determinar o rumo a ser seguido das informações do caso concreto e dos argumentos fornecidos pelas partes envolvidas. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de se ponderar para se chegar a solução do conflito.

Neste sentido, o ministro Luiz Roberto Barroso afirma que “não existe hierarquia em abstrato entre normas e princípios, devendo a precedência relativa de um sobre o outro ser determinada à luz do caso concreto”.

Dessa forma, conclui-se que essas normas constitucionais não são absolutas e, como consequência, seu exercício está sujeito a limites, e, por serem geralmente estruturadas como princípios, em inúmeras situações, são aplicados mediante ponderação.

Desta forma, não pode haver a desconsideração dos direitos sociais garantidos pela Carta Magna em prol do subsídio, é necessário harmonizar as normas em questão, de acordo com o princípio da unidade da Constituição, para afastar as antinomias aparentes.

Assim, não há possibilidade de uma interpretação restritiva dos direitos sociais, eles não podem ser desconsiderados à luz de qualquer outra regra. Sendo assim, não se quer acabar com o subsídio, apenas harmonizá-lo às garantias e aos direitos fundamentais do cidadão.

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Sobre o autor
Thomas Magnun Maciel Battu

• Especialista em Direito Administrativo e crimes contra a Administração Pública; • Especialista em sistemas de Compliance; • Atuação com Acordos de Colaboração/Delação Premiada; • Pós-Graduação em Direito Penal Empresarial pela Universidade de Santa Cruz do Sul; • Membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCRIM; • Membro da Associação dos Advogados de São Paulo; • Membro do Advogados Sem Fronteiras Brasil; • Membro do Grupo de Estudos sobre Lavagem de Dinheiro em Paraísos Fiscais; • Autor de Artigos;

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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