A Crônica do Rousseau Internauta

26/10/2017 às 23:51
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A crônica trata com um certo tom sarcástico sobre a crise de representatividade que assola o cenário político brasileiro atual, segundo a visão do pensador suíço Rousseau.

No ano de 2017, em pleno turbilhão na esfera política, os cientistas brasileiros inventaram uma máquina do tempo, cujo projeto foi financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A demanda partiu da Presidência da República. O objetivo do projeto era convidar os grandes teóricos políticos do passado. Buscava-se a resolução da crise de representatividade que sempre assolou a democracia brasileira. O primeiro a ser convidado foi um dos principais filósofos do iluminismo, o Jean-Jacques Rousseau.

Após dias de hospedagem no Palácio do Jaburu, depois de usufruir da melhor culinária brasileira, dos passeios pela capital federal, além de ter se encantado com as redes sociais e com mundo da internet, o filósofo suíço solicita ao Presidente da República a leitura da legislação do Brasil. O Presidente, por sua vez, apresenta diante de Rousseau a Constituição Federal. Logo em seguida, o autor iluminista folheia as páginas e lê o parágrafo único do art. 1° que lhe chama a atenção: 

"(...)

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.".

Aproveitando a oportunidade, tece o seguinte comentário:

- “No momento em que um povo se dá representantes, não é mais livre, não mais existe.”.

 O autor ainda especula:

- “Se existe instância intermediária nesta lei em apreço, saiba que estes são representativos de interesses particulares.”.

O escritor suíço, num tom professoral, ainda discursa:

- “Os legisladores devem ser comissários do povo, tendo clara consciência dos problemas do comitente. Para que tal contrato seja bem-sucedido, o povo deve fiscalizar os seus representantes, que, por sua vez, tendem a agir em nome de si próprios. Além da fiscalização exercida pelo povo em face dos representantes, tem que ocorrer uma alta rotatividade dos últimos com o fito de não extrapolarem suas funções.”.

 Após a leitura do dispositivo isolado e feito todo o sábio discurso, Rousseau agradece a atenção dispensada pelo Presidente e leva a Constituição para o seu quarto de hóspede, com o propósito de analisá-la. Depois de horas de leitura, o grande pensador percebe que, no sistema brasileiro, há rotatividade e existem mecanismos constitucionais de fiscalização. Como resultado, Rousseau abre um leve sorriso, satisfeito por causa do impacto ocasionado pelos seus textos na história política do país. Porém, transcorrido certo tempo, o autor suíço faz uma pausa, pensa, navega na internet e, em seguida, fica um pouco decepcionado. Após constatar a presença da famigerada instância intermediária, e, ainda acompanhando os noticiários postados nas redes sociais sobre o Brasil, ele coloca o seguinte comentário no seu novo perfil do facebook:

- “Os partidos políticos brasileiros são representativos de interesses particulares. Aproximadamente três séculos se passaram, mas vocês brasileiros ainda não aprenderam com a minha crítica. Eu bem que avisei.”. 

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