Os fatos vivenciados nos últimos dias evidenciam os resultados de péssimas políticas e ideologias internas (nacionais) e externas (internacionais).
Durante muitas décadas houve duas ações fomentadas pela classe patronal, governos e também mídia. A primeira foi a demonização do movimento sindical e a segunda a capitulação das cúpulas sindicais.
O desmantelamento do movimento sindical legitimado:
Com apoio governamental e patronal, durante muitos anos, houve crescente vinculação de interesses individuais/partidários nas diretorias sindicais. Desta forma, viu-se que as cúpulas sindicais começaram, a passos largos, a se afastar dos interesses das bases, a dificultar a participação associativa, bem como a obstaculizar o acesso às diretorias.
Com efeito, a vinculação perigosamente estreita com partidos políticos, com ou sem benefícios das cúpulas dirigentes, levaram muitas entidades a defenderem pautas partidárias em detrimento de pautas laborais objetivas da categoria. Direitos laborais e previdenciários não se confundem com personalidades políticas. Salvo melhor juízo, os interesses de personalidades partidárias devem ser defendidos por seus partidários e simpatizantes. No entender desta autora, os valores monetários dos sindicatos nunca deveriam ser direcionados para defesa partidária, eis que, via de regra, não foram direcionados para esta função em seus estatutos.
Por óbvio, é necessário salientar que ainda existem sindicatos comprometidos com seus representados e atuantes na defesa do trabalhador. Estes são atuantes e vinculados a pautas laborais de forma independente.
A demonização do movimento sindical:
Com o auxílio da mídia e da classe empresarial, foi, no decorrer dos anos, difundida a demonização do movimento sindical como sustentação para pouca, ou nenhuma, divergência nas políticas laborais/previdenciárias governamentais e precarização das relações de trabalho nas empresas.
Este ponto possui fundamental importância, eis que a ideologia disseminada possui mais penetração entre os associados que as próprias práticas de distribuição de benefícios às cúpulas dirigentes. As ideias de "corporativismo", "paternalismo", "parasitismo" e outros "ismos" pejorativos ligados a movimentos sindicais de TRABALHADORES, foram intensamente impregnadas nos meios de mídia. Por óbvio, as mesmas mídias esquecem de qualificar, de mesma forma, os sindicatos patronais - evidenciando o caráter meramente ideológico da demonização.
Urge lembrar, sindicato de trabalhadores somente representará efetivamente se a base for atuante. Se existe problemas (inúmeros) nas entidades, a base (os profissionais representados) permitem por meio do absoluto desinteresse, ora fomentado pela ideologia da demonização, ora fomentado pela ideologia do individualismo. Somente a categoria representada pode efetivamente mudar a cúpula sindical. A participação ativa dos trabalhadores, em reuniões, por exemplo, bastaria para incomodar muito uma cúpula com pouca legitimidade e mudar os rumos da política sindical interna.
Os problemas, para a sociedade, da falta de legitimação dos sindicatos de trabalhadores:
As cúpulas sindicais capituladas por meio de "distribuição" de benefícios e valores, assim como a classe política, tornaram-se desacreditadas e afastadas de suas bases de sustentação. Por algum tempo, haverá a estagnação, contudo, com o aumento na desigualdade social, ocorrerá a tendência de modificação do sistema.
Ocorre que, o desmantelamento sindical, ao ponto que temos hoje, torna a greve pulverizada, servindo a diversos interesses e sem lideranças definidas. Tal fato torna uma greve instalada muito difícil de ser controlada, eis que os diversos atores não têm uma meta única, tampouco lideranças que possuam legitimidade de fato dos profissionais representados.
A greve tornando-se "selvagem", poderá ocorrer sabotagens, bloqueios, destruições e acirramento da violência. Tudo isto é possível verificar nos livros de história e, de forma mais inicial, na presente greve dos caminhoneiros.
A greve tornando-se indomável, não adiantará qualquer medida coercitiva amparada em leis sobre o direito de greve. Tudo fica inócuo. Lei não consegue regular fatos sociais dentro de intenso desequilíbrio social (vide diversas leis inócuas que temos hoje, tal como grande parte da LEP, a parte protetiva do ECA e diversas garantias constitucionais).
Não há pauta previamente definida.
Não há legitimidade para fixar acordos com ganhos e perdas para ambos as partes.
Os trabalhadores ignoram acordos fixados por cúpulas não representativas e, na melhor ideologia individualista, unem-se em subdivisões com pautas diversas com radicalização e sem coordenação. Estes, muito provavelmente, poderão ser cooptados por interesses de outros grupos por meio de manipulação ideológica.
A escolha pelo desmantelamento da representatividade da classe trabalhadora, em últimA análise, ajuda a derrubar o próprio equilíbrio do sistema capitalista.
Diante de forte desequilíbrio de forças, com grande desigualdade social, mesmo que não existam sindicatos, haverá revolta. E, o pior, revoltas sem coordenação e lideranças, com tendência a maiores manifestações de violência.
Quais as perspectivas para a atual situação? John Kenneth Galbraith, na sua obra “A cultura da Satisfação”, nos apresenta quatro:
a) a convocação séria e politicamente vitoriosa aos desamparados;
b) um desastre econômico generalizado;
c) uma atuação militar adversa associada a um desastre internacional;
d) o desenvolvimento de uma subclasse furiosa.
(La cultura de la Satisfacción, Ariel, 1992, pg 184)
Nenhum sistema permanece hígido quando somente um lado (especulação financeira, mercado financeiro) tem poder decisório na sociedade.