Quando os noticiários estampavam em suas manchetes o resultado do país que seria sede da Copa do Mundo de 2014, a pujança econômica brasileira encontrava-se em seu auge e sua Presidente da República colecionava índices cada vez mais elevados de popularidade, como nunca antes vistos na história do país.
A euforia da nação do futebol com a proximidade de um dos mais importantes eventos esportivos do mundo só crescia. Eram milhões de técnicos escalando a seleção brasileira, desde sua formação tática até a lista final de convocados.
Mesmo quando a gestão do presidente popular chegava ao seu final, pouco importava quem seria o seu sucessor, desde que fosse por ele indicado. Pouco importava escalar adequadamente os deputados e senadores no Congresso, desde que o Neymar e o Ganso estivessem na seleção.
Construíram-se novos estádios com velhas empreiteiras e novas alianças políticas com velhos caciques. O mensalão mineiro foi para a gaveta junto com a oposição e o mensalão do PT frequentou a Papuda. O Neymar aparecia para o mundo, conquistava títulos por seu clube brasileiro e já estava escalado na seleção dos duzentos milhões de técnicos de futebol.
O país ainda respirava economicamente bem, quando vinte centavos fizeram a diferença. Os milhares viraram milhões e os gritos contra o mundo político ecoaram mais fortes que os gritos dos estádios recém-inaugurados. As capelas de vozes patrióticas encobriram a fragilidade da seleção brasileira. Em campo, a seleção brasileira sofria uma goleada enquanto os homens do poder, fora dele, levavam uma bolada. Os técnicos abandonaram a seleção e o garçom passou a citar artigos da constituição aos fregueses.
A oposição, ainda na gaveta, viu a oportunidade de sentar na cadeira. O ódio à política encontrou um bode expiatório: o vermelho. Os vermelhos (não de vergonha, por incrível que pareça) recorreram ao quitute frito de rodoviária para polarizar o debate e a operação Lava Jato abriu suas torneiras para lavar as impurezas, mesmo excedendo o consumo em tempos de seca no sudeste.
E, nas eleições democráticas, onde o vencer deveria parecer o fim, o choro dos derrotados veio a pedaladas caminhar para o impedimento. Da autora heavy metal do pedido de impedimento aos deputados paladinos dos valores familiares, a goleada foi da “democracia” e a nação pôde, enfim, comemorar e soltar o grito preso em outubro de 2014. Sim, a Copa do Mundo terminou em julho.
De lá até o “tchau querida”, foi de uma eficiência ímpar no parlamento, com prováveis reflexos no PIB da cidade de Brasília. O horário oficial de Brasília passou até a incluir as segundas e sextas-feiras, inclusive os domingos. Que disparate! E, nos grupos de Whatsapp, os juristas discorriam sobre as teses dos crimes de responsabilidade. Teve até grupo de família com o pedido de impeachment da sogra!
Nada mais brasileiro do que apontar os culpados e esconder seus próprios desvios éticos. “Desviar recursos públicos deveria ser crime hediondo e por isso sonego meus impostos. Não vou dar dinheiro para vagabundo roubar!”, justifica o cidadão com a camisa da seleção brasileira (CBF), mão direita ao peito, marchando pelo fim da corrupção. O pessoal da ala VIP encerrava o protesto ao acabar a champanhe, e os vermelhos, a mortadela.
E, no vai e vem político, algo realmente mudou na sociedade brasileira: a TV Câmara alcançou índices de audiência comparáveis aos dos melhores amistosos da seleção brasileira e os técnicos de futebol tiraram seus agasalhos e vestiram a toga nos bares e nas redes sociais. Sinais de um país mais cidadão? Vamos esperar as próximas eleições.