Rede de empresas: uma alternativa para enfrentar a crise pandêmica

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17/08/2020 às 17:52
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08. A noção de rede

O termo redes de empresas é característica da sociedade no século XXI, significando a predominância e abrangência dos diferentes tipos de redes, sejam digitais, sociais ou organizacionais.

A palavra rede tem um grande número de definições em diversos campos de aplicação que vão desde a computação, passando pela teoria das organizações, pesquisa operacional e teoria da comunicação.

De acordo com Nohria e Eccles (1992), a utilização da noção de rede (network) para o estudo das organizações e seus comportamentos está fundamentada em cinco premissas básicas: todas as organizações ligadas a um conjunto de relações sociais; o ambiente de uma organização pode ser visto como uma rede de outras organizações; as ações dos atores podem ser explicadas por suas relações dentro da rede; redes condicionam e são condicionadas pelas ações de seus atores integrantes; nas comparações das organizações deve ser considerada a característica de redes em que elas estão inseridas, ou seja, suas características próprias.

A rede de empresas pode representar uma forma organizacional que necessita se adptar a um ambiente onde a concorrência está extremamente acirrada ou quando se está em meio a uma crise de grandes proporções, onde sobrevivem os melhores, porque tal instituto pode viabilizar a ruptura de práticas ultrapassadas.

Essa flexibilidade organizacional caracterizada pela cooperação entre empresas pode ser: modelo de sub-contratação; alianças estratégicas; bem como de aglomeração de empresas.

Como exemplo, podemos citar o caso de pequenas e médias empresas que ficam sob o controle de sistemas de sub-contratação, ou seja, ficam sob o domínio tecnológico ou financeiro de empresas de grande porte, e, em algumas situações, estabelecem relações em redes com várias outras empresas grandes ou menores, encontrando nichos de mercado diversificados.

Outro modelo que podemos citar é a aliança entre empresas de grande porte, que é um modelo diferente de cartéis, por exemplo, porque se refere a objetivos, épocas, produtos e processos específicos, e não excluem a concorrência nas áreas não cobertas pelos acordos. Todavia, esses modelos não seriam de grande valia em tempos de crise porque o escopo é a manutenção de pequenas e médias empresas, pois são essas que sofrem mais nesse período.

No casos de aglomerações de empresas, podemos citar o modelo cluster, que é a concentração geográfica e setorial de empresas que têm como características inerentes o tipo de produto ou serviço que proporcionam. Mas o que importa é o ganho de eficiência, e o objetivo maior é a divisão de tarefas entre as empresas, bem como a especialização e a inovação, que são elementos essenciais para a competição além do mercado local.


09. Conclusão

O conceito de rede no âmbito da cooperação, ajuda mútua e compartilhamento, se origina em várias áreas do conhecimento, como a sociologia, por exemplo.

Tal instituto se alicerça em dois fatores muito significativos: o crescente aumento da concorrência e competitividade entre as empresas, em um ambiente super globalizado, bem como a dificuldade em sobreviver e se desenvolver, atuando isoladamente.

A difusão desse sistema surge como um recurso estratégico para enfrentar esse ambiente inóspito.

A permanente inovação tecnológica, mais do que nunca é necessária para a manutenção da competitividade das empresas, porque o incremento do nível tecnológico por meio do desenvolvimento de novas tecnologias e sua aplicação em novos produtos e meios de produção, pode ser realizada pela rede de empresas, principalmente nesse momento de crise pandêmica.

A sobrevivência de uma empresa e, consequentemente, de uma comunidade, depende basicamente de se saber transpassar obstáculos, estar a frente dos concorrentes, e criar o diferencial. O perfil ideal dos líderes que pretendem estruturar e implantar inovações através da constituição de redes de empresas deve ser de dedicação ao trabalho, entusiasmo, iniciativa, exploração de idéias e perseverança na luta por elas, ampliação de conhecimentos, capacidade de julgar sugestões com probabilidades de sucesso, administração de recursos próprios, dentre outros.

As questões apresentadas neste estudo demonstram que a administração competitiva, com a inovação em redes de empresas, está relacionada ao comportamento das pessoas e a maneira como vão se adaptar às novas exigências do mercado mundial, para que os seus produtos continuem tendo aceitação e competitividade, trazendo, assim, emprego e renda para a população daquela comunidade, ou, notadamente, uma alternativa estratégica para o desenvolvimento local.

A difusão desses sistemas surgem como um recurso estatégico para enfrentar um ambiente de turbulências e incertezas caracterizado por crises e movimentos de reestruturação nas diversas esferas de atuação pública e gestão de negócios.

As redes envolvem um amplo processo de atividades variadas, mas integradas e com complementariedade entre empresas e organizações.

Essas redes podem ser flexíveis, ou seja, de pequenas e médias empresas, redes de relacionamentos, de informação, comunicação, pesquisa e inovação, podem também ser de segmentos econômicos distintos. Também pode ser um agrupamento de empresas destinado a favorecer a atividade de cada uma delas, todavia elas são autônomas e não existe laços econômicos entre si. ( Ribault, M; Amato Neto, J; Olave, M.E : Redes de Cooperação produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. Gestão & Produção, v. 8, n. 3, pág. 289 – 303, 2001).

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Segundo Kwasnicka: “as redes como estruturas dinâmicas virtuais e flexíveis de produção e venda de bens e serviços e de geração de novas técnologias....baseiam-se na interdependência de seus parceiros, que constroem conjuntos sinergéticos, cuja força resultante é sempre maior que a soma das forças de seus componentes...” (Kwasnicka, E.L.; Governança gestora na rede de negócios: estudo comparativo. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 8, n.21, pág. 33 a 42, 2006).

As principais características são a confiança e cooperação que possibilitam a transferência de conhecimentos e formação de capital social. Nesse caso, a confiança contribui para investimentos, logística estratégica, diminuição de custos, trocas de informações, dentre outras.

Nesse contexto, se espera que os conhecimentos trocados no interior de uma rede traga sempre a expectativa de que as partes irão se comportar conforme o acordado, mas sem haver uma relação hierárquica ( pois não estamos falando de grupos societários), mas sim de desenvolvimento tecnológico e processos produtivos inovadores, bem como, do aumento de produção sem aumentar custos, novas habilidades, produtos e serviços desenvolvidos em conjunto que irão melhorar a eficiência, criando a possibilidade de estar à frente das concorrentes e aumentar a pressão na defesa dos interesses da rede, na palavras de Kwasnicka.((Kwasnicka, E.L.; Governança gestora na rede de negócios: estudo comparativo. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 8, n.21, pág. 33 a 42, 2006).

O que se entende é que as empresas que são participantes da rede alcançem um patamar bem mais estruturado de organização, que possibilite a sua sobrevivência no mercado e o crescimento dos negócios.

Quando falamos em transferência de “know how”, significa que o progresso tecnológico comporta  um processo interativo através de uma troca contínua de informações. Mas não somente isso, porque, para atingir a excelência, não é necessário apenas uma troca contínua de informações, como também de esforços realizados conjuntamente pelas empresas partícipes da rede.

Obvimante que todo esse processo irá requerer a criação de códigos de linguagem e canais internos de comunicação entre elas, ou seja, cada membro da rede será influenciado pelas experiências das administrações das outras empresas e essa capacidade de obter benefícios através de outros membros da rede se caracteriza pela possibilidade de realizar atividades com propósitos em conjunto, ou seja, com propósitos comuns em grupos e organizações.

O maior benefício que poderá ter o capital social são, certamente, as novas fontes de informações com um acesso privilegiado. Em contrapartida, o capital social ajuda as empresas partícipes a acessar as informações sobre inovação, nichos de mercado, etc.

Portanto, as organizações adquirem conhecimentos através de alianças com outras empresas parceiras, tendo acesso as novas habilidades e competências.

Nesse contexto, as redes criam oportunidades para criar e inovar, proporcionando maior competitividade no mercado e garantindo a sobrevivência das pequenas e médias empresas, principalmente nos momentos de crise.


10. Bibliografia:

Amato Neto, João. Redes dinâmicas de cooperação e organizações virtuais. Redes Entre Organizações. São Paulo: Atlas, 2005.

Kwasnicka, E. L. Governança gestora na rede de negócios: estudo comparativo. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 8, n.21, pág. 33 a 42, 2006.

Ribault, M; Amato Neto, J; Olave, M.E : Redes de Cooperação produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. Gestão & Produção, v. 8, n. 3, pág. 289 – 303, 2001.

W Baker, N Nohria, R. Eccles , Classics of organization Theory, 1992.

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Sobre a autora
Vanessa Massaro

Doutora (PhD) em Direito pela Università degli Studi di Torino Turim - Itália.Doutorado em Direito, Pessoa e Mercado. Pesquisadora na área do Direito Privado pela Università degli Studi di Torino - Campus CLE. Participação em 2014, 2015 e 2017 no Doutorado Organizado pela União Europeia - Erasmus Mundus e no Doutorado em Direito na Università Degli Studi di Milano. Milão - Itália. Membro do Instituto dos Advogados do Paraná - IAPPR. Curso de aperfeiçoamento em Comparative Private Low na Università Uninettuno-Roma. Curso de Aperfeiçoamento em Direito dos Mercados Financeiros pela Università degli Studi di Milano.Milão - Itália. Pós-graduação em Direito pelo Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.Contato: [email protected]@gmail.comSite: www.unito.it Home > Studenti > Massaro VanessaDipartimento di Economia e Statistica "Cognetti de Martiis"Home > Personale > Vanessa Massaro. LIVROS DISPONÍVEIS NO SITE DA AMAZON E NO CLUBE DE AUTORES. Público alvo: estudantes de Direito, Economia e Administração de Empresas; operadores do direito e concurseiros.

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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