Artigo Destaque dos editores

Corrupção: um mapa analítico

Exibindo página 2 de 2
06/10/2012 às 15:26
Leia nesta página:

2. O FUNDAMENTO ANALÍTICO Da Corrupção

Na tentativa de superar os limites da relativização jurídico-positivista e sociológica desenvolveu-se outra perspectiva, hoje majoritária, centrada no entendimento de que o fundamento analítico da corrupção é a confiança (ALATAS, 1990; BACHARACH; GAMBETTA, 2000; BROWN, 2006; GAMBETTA, 2002). Segundo Gambetta (2002, p. 35–36), a corrupção é, necessariamente, uma relação multilateral que parasita as relações de confiança (o elemento essencial das instituições sociais).

Segundo este modelo, o depositário da confiança (the truster) atribui recursos ao seu agente (fiduciary), ao acreditar que esse servirá aos seus interesses, dentro de termos previamente acordados, ao invés de agir em benefício próprio. Estabelecida a relação, a corrupção ocorreria quando os interesses de um terceiro – o corruptor – estivessem em oposição aos interesses do truster, pois nesse caso o corruptor estaria disposto a promover ações para que o agente abusasse da confiança depositada nele para beneficiá-lo (GAMBETTA, 2002, p. 36–38).[9]

Corruption is parasitic on the existence of trusting relations; corruption corrupt first and foremost the trust between T and F, and, by implication, between T and whoever else trusts T´s rules of allocation. It follows that the greater the number of trusting relations, the greater is the potential for corruption. (GAMBETTA, 2002, p. 54)

Esse fundamento analítico promoveu um avanço conceitual significativo ao apontar de maneira inequívoca a confiança como o elemento corrompido que as tradições jurídica e sociológica haviam relativizado. No entanto, a ênfase nas definições baseadas em uma única condição suficiente para determinar o fenômeno e a falta de um quadro de referência teórico apropriado para a análise do conceito são as principais causas de uma extensa discussão metodológica, centrada no conceito de corrupção.

Mesmo assim, o referido fundamento está no cerne das definições de autores das ciências sociais como Diego Gambetta (2002), Robert Putnan (1996) e Peter Graeff (2005). Em especial para os autores da tradição da economia política que logo passaram a associar o “abuso da confiança” ao “abuso da confiança pública”, tanto sob o ponto de vista da prática de suborno, quanto da corrupção enquanto prejuízo ao “interesse público” em sentido amplo (PHILP, 2006).

 A definição de corrupção como o abuso do poder público para ganhos privados [abuse of public power for private gain] é antiga. Suas origens remontam a enciclopédia de Ciência Sociais de J.J. Senturia, de 1931, que já identificava a corrupção nesses termos [the misuse of public power for private gain] (THEOBALD, 1990, p. 02). Entretanto, a moderna difusão dessa definição está associada ao sucesso dos principais autores da economia política, dentre os quais se destacam Susan Rose-Ackerman (1978; 1999), Robert Klitgaard (1994), Vito Tanzi (1997), Paolo Mauro (1995; 1998) e outros adeptos do conceito como Joseph Lapalombara (1994), Robert Kaufmann e Paul Siegelbaum (1997) e Michael Collier (2002). No Brasil, essa definição também é predominante, pois orienta os estudos de David Fleischer (1997a; 1997b), Bruno Speck (1998; 2000; 2002), Timothy Power e Júlio González (2003), Leonardo Avritzer e Fernando Filgueiras (2010; 2011).

Em termos estritamente metodológicos, tal perspectiva centrada no poder público, não diferencia adequadamente fenômenos distintos como o peculato, a fraude, o tráfico de influência, as práticas patrimonialistas e clientelistas ou qualquer outro tipo de “abuso do poder público” (LANCASTER; MONTINOLA, 1997; SAJO, 2002). Ao alegar que tal abuso e a corrupção são a mesma coisa, os pesquisadores estendem os limites do conceito a uma inutilidade subjetiva extrema (BROWN, 2006, p. 64). Afinal, sob o ponto de vista dos usuários do serviço público, por exemplo, as ineficiências e iniquidades do serviço não corresponderiam a um abuso do poder público? (LANGSETH, 2006, p. 07). Além disso, se o fundamento analítico é o abuso da confiança, será que tal abuso não poderia ocorrer também no setor privado? Nesse caso, não deveria ser igualmente denominado de corrupção?

Embora o fundamento analítico seja parcimonioso, ressonante e analiticamente útil às referidas tradições, existem fragilidades evidentes nesse constructo se considerarmos critérios importantes de formulação conceitual, como:

a.                  Coerência: a definição não estabelece fronteiras adequadas em face dos conceitos vizinhos;

b.                  Operacionalização: a definição não permite determinar adequadamente os referentes empíricos do conceito;

c.                  Amplitude: a definição amplia excessivamente o grau de generalização do conceito;[10]

d.                 Validade: a definição impede a construção de medidas confiáveis do fenômeno.

Adotar essa definição implica em consentir com essas limitações, incorporando um grau talvez excessivamente elevado de incerteza às proposições decorrentes dessa estrutura conceitual. Por isso, é preciso aprimorar o conceito de corrupção, antes de dar continuidade à elaboração de proposições descritivas ou causais sobre o fenômeno. A atual fragilidade dessas proposições não se deve exclusivamente a impossibilidade de mensurar objetivamente o fenômeno oculto da corrupção, mas antes na incapacidade, também metodológica, de conceituar adequadamente o fenômeno em questão.

É preciso aprimorar o conceito, começando pelo reconhecimento de que a corrupção é também um elemento presente nas atividades do setor privado e que a sua ocorrência, em ambas as esferas, está interconectada. Manter essa definição restrita ao setor público, “para evitar a complexidade do fenômeno”, não parece uma justificativa válida (ELLIOT, 1997, p.178).

O fundamento analítico da corrupção baseado na confiança não precisa ser abandonado, pois sua perspectiva, transacional, exige do analista a explicitação:

i.                     dos agentes que compõem a relação multilateral (the truster, the fiduciary, e o corruptor);

ii.                  dos padrões sociais, políticos ou legais que compõem o contexto da relação de confiança e de sua violação (GAMBETTA, 2002; BROWN, 2006; PHILP, 2006).

Assim, em oposição à ideia de que somente os padrões legais pré-estabelecidos são relevantes para a identificação da corrupção, torna-se evidente que qualquer outro padrão existente (legal, ético, moral, etc.) pode ser utilizado para interpretar se a integridade do “poder confiado” foi violada. Por isso, a investigação do fenômeno da corrupção exige que o analista, ou reformador, faça referência explícita ao contexto dentro do qual o comportamento corrupto está inserido antes de promover qualquer tentativa de mensuração ou reforma (BROWN, 2006, p. 75). Além disso, é preciso reconhecer que nem todas as relações de confiança são um objeto de estudo relevante para os especialistas da corrupção, de forma que as futuras definições precisarão também contemplar critérios de relevância que solucionem esses dilemas de classificação do fenômeno.[11]

Antes de propugnar reformas institucionais ou tentar mensurar a ocorrência ou a percepção do fenômeno para testar hipóteses ou avaliar medidas de intervenção, faz-se indispensável oferecer uma solução metodologicamente adequada para os desafios conceituais que permeiam essas iniciativas. O conceito de corrupção, como foi possível demonstrar, ainda carece de esforços para o seu desenvolvimento – em especial, se considerarmos sua relevância no debate público e, sobretudo, sua limitações ainda não resolvidas pelos círculos acadêmicos especializados.


Considerações Finais

Como destaca John Gerring (1999, p. 37), para muitos especialistas a confusão semântica das ciências sociais não representa um problema, nem um desafio, pois a imprecisão conceitual é: (a) um aspecto natural da linguagem ordinária, (b) não erradicável do discurso social e, talvez, até mesmo, (c) desejável. Nesse sentido, o presente estudo não deixa de estar revestido de um indesejável sentido positivista, ao considerar a possibilidade de reformular conceitos clássicos das ciências sociais, tais como o de corrupção.

Ao concluir o estudo, não deve ser motivo de estranhamento o fato de existirem várias tradições de estudo da corrupção, cada uma procurando apreender e enfatizar um aspecto que os especialistas consideram relevante. Tal situação, incluindo os efeitos prejudiciais para o conhecimento e a avaliação das medidas de reforma, é amplamente reconhecida pela literatura.[12] Superar essa limitação exigirá um maior rigor e disciplina no uso das definições, caso contrário, o desentendimento será inevitável e perpetuará a atual discordância que prejudica o conhecimento necessário às medidas de prevenção e combate à corrupção que nossas sociedades aspiram em prol do seu desenvolvimento.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADES, Alberto; DI TELLA, Rafael. 1996. “Causes and Consequences of Corruption: A Review of Empirical Contributions.” IDS Bulletin: Liberalization and the New Corruption 27(2):6-11.

___________________. 1995. “La nueva economía de la corrupción.” Estudios IEERAL 18(75):119-139.

ALATAS, Syed. 1990. Corruption: Its Nature, Causes and Functions. Aldershot: Avebury.

AVRITZER, Leonardo. 2011. Governabilidade, sistema político e corrupção no Brasil. In: Leonardo Avritzer e Fernando Filgueiras (Org.). Corrupção e Sistema Político no Brasil. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. P. 43-62.

AVRITZER, Leonardo; FILGUEIRAS, Fernando. Corrupção e controles democráticos no Brasil. Estado, instituições e democracia: república. Brasília: IPEA, 2010

AVRITZER, Leonardo; BIGNOTTO, Newton; GUIMARÃES, Juarez; STARLING, Heloísa. 2008. Corrupção: Ensaios e Críticas. Belo Horizonte: Editora UFMG.

BACHARACH, Michael; GAMBETA, Diego. 2000. Trust in Signs. In: COOK, Karen (ed.) Social Structure and Trust. Nova York, Russell Sage Foundation.

BANFIELD, Edward. 1958. The Moral Basis of Backward Society. New York: Free Press.

BECKER, Gary. 1968. “Crime and Punishment: An Economic Approach.” Journal of Political Economy 76.

Bendix, Reinhard. 1963. Concepts and Generalizations in Comparative Sociological Studies. American Sociological Review. Vol. 28, No. 4. p. 532-539.

BENTHAM, Jeremy. 2000 [1789]. An Introduction to the principles of morals and legislation. Batoche Books: Kitchener.

BRADY, Henry, COLLIER, David; SEAWRIGHT, Jason. (2006). “Toward a Pluralistic Vision of Methodology.” Political Analysis 14(3):353-368.

BRASIL. 1940. Código Penal. Acesso em 14 de abr. de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del2848.htm>.

BROWN, A.J. 2006. “What We Are Trying to Measure? Reviewing the Basis of Corruption Definition.” In Measuring Corruption (Law, Ethics and Governance),  Burlington: Ashgate Publishing.

BRÜNING, Raulino Jacó. 1997. Corrupção :  Causas e Tratamento. Tese. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.

BUCHANAN, James; TULLOCK, Gordon. 1962. The calculus of consent: Logical foundations of constitutional democracy. [S.l.]: Ann Arbor.

BUSCAGLIA, Edgardo. 2001. “An Analysis of Judicial Corruption and its Causes: An Objective Governing-based Approach.” International Review of Law & Economics 21(2):233-249.

COLEMAN, James. 1987. Toward an Integrated Theory of White Collar Crime. New York: Rinehart.

COLLIER, Michael. 2002. Explaining corruption: An Institutional Choice Approach. Crime, Law and Social Change. Vol. 38. P. 1-32.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

COLLIER, David; MAHON, James. 1993. Conceptual “Stretching” Revised: Adapting Categories in Comparative Analysis.American Political Science Review. Vol. 87. N. 4. P. 845-855.

DELLA PORTA, Donatella; VANUCCI, Alberto. 1999. Corrupt Exchanges, Actors, Resources and Mechanisms of Political Corruption. New York, De Gruyter.

DELLA PORTA, Donatella; ROSE-ACKERMAN, Susan. 2002. Corrupt Exchanges: Empirical Themes in the Politics and Political Economy of Corruption. 1st ed. Baden-Baden: Nomos.

DOBEL, J. Patrick. 1999. Public Integrity. Johns Hopkins University Press.

ELLIOT, Kimberly. 1997. Corruption as an international policy problem: An overview and recommendations. In Kimberly Elliot (Org.) Corruption and the global economy. Institute for International Economics. Washington DC. P. 175-233.

FILGUEIRAS, Fernando. 2006. A Corrupção na Política: Perspectivas Teóricas e Metodológicas. Cadernos CEDES nº. 5. Rio de Janeiro.

________________. 2004. “Notas sobre o conceito de Corrupção: Um debate com juristas, sociólogos e economistas.” Revista de Informação Legislativa.

FLEISCHER, David V. Political Corruption in Brazil. Crime, Law and Social Change. nº. 25. 297-321. Dordrech, 1997a.

FLEISCHER, David V. Corruption in Brazil. Defining, Measuring and Reducing. CSIS. Washington, 1997b.

GAMBETTA, Diego. 2002. Corruption: An Analytical Map. In Political Corruption in Transition: A Skeptical Handbook, Budapest: Central Europe University.

GARCIA, Ricardo Letizia. (2003). A Economia da Corrupção - Teoria e Evidências: Uma Aplicação ao Setor de Obras Rodoviárias no Rio Grande do Sul. Tese. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

GERRING, John. 2009. Social Science Methodology: A Criterial Framework. Cambridge, Cambridge University Press. 2nd edition.

GOERTZ, Gary. 2005. Social Science Concepts: A User’s Guide. Princeton, Princeton University Press.

GONZALEZ, Júlio, e Timothy POWER. 2003. “Cultura Política, Capital Social e Percepções sobre Corrupção: Uma Investigação Quantitativa em Nível Mundial.” Revista de Sociologia e Política 21.

GRAEFF, Peter. 2005. “Why Should One Trust in Corruption? The Linkage between Corruption, Norms and Social Capital.” Em The New Institutional Economics of Corruption,  New York: Routledge.

HABIB, Sérgio. 1994. Quinhentos Anos de Corrupção. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris.

HARRIS, Robert. 2003. Political Corruption: In and Beyond the Nation State. London: Routledge.

HEIDENHEIMER, Arnold. 1978. Political Corruption: Readings in Comparative Analysis. New York: Holt Rinehart and Winston.

HEYWOOD, Paul. 2002. “Analysing political corruption in Western Europe: Spain and the UK in comparative perspective.” Corrupt Exchanges: Empirical Themes in the Politics and Political Economy of Corruption. Baden-Baden: Nomos Verlagsgesellschaft.

HUNTINGTON, Samuel P. 1968. Political Order in Changing Societies. New Haven: Yale University Press.

JAIN, Arvind K. 2001. “Corruption: a Review.” Journal of Economics Surveys 15(1).

KAUFMANN, Daniel; SIEGELBAUM, Paul. 1997. Privatization and Corruption in Transition Economies. Journal of International Affairs. Vol. 50. N. 2. P. 419-459.

KLITGAARD, Robert. 1994. A Corrupção sob Controle. São Paulo: Zahar.

KRUEGER, Anne. 1974. “The Political Economy of Rent-Seeking.” American Economic Review 64.

LAMBSDORFF, Johann Graf. 2002. “Making Corrupt Deals – Contracting in the Shadow of Law.” Journal of Economic Behavior and Organization 48(3).

LANCASTER, Thomas; MONTINOLA, Gabriela. 2001. Comparative political corruption: Issues of Operationalization and Measurement. Studies in Comparative International Development. vol. 36. n. 3. P. 3-28.

LANGSETH, Petter. 2006. Measuring Corruption. In Charles Sampford et al (Org.) Measuring Corruption (Law, Ethics and Governance),  Burlington: Ashgate Publishing.

LAPALOMBARA, Joshep. 1994. Structural and Institutional Aspects of Corruption. Social Reaserch. Vol. 61. n. 2. P. 325-351.

MAURO, Paolo. 1995. “Corruption and Growth.” Quarterly Journal of Economics 110(3):681-712.

MAURO, Paolo. 1998. “Corruption and the composition of government expenditure.” Journal of Public Economics 69(2):263-279.

MBAKU, John Mukum. 1992. “Bureaucratic Corruption as Rent-Seeking Behavior.” Konjunkturpolitik 38.

NYE, Joseph. 1967. “Corruption and Political Development: a cost-benefit analysis.” American Political Science Review 61(4).

Ogden, Charles; Richards, Ivor. 1923. The Meaning of Meaning: A Study of the Influence of Language Upon Thought and of the Science of Symbolism.  London: Routledge & Kegan Paul.

OLIVEIRA, Edmundo. 1991. Crimes de Corrupção. Rio de Janeiro: Editora Forense.

PARETO, Vilfredo. 1984. Tratado de Sociologia Geral. São Paulo: Ática.

PHILP, Mark. 2006. Corruption Definition and Measurement. In Charles Sampford et al. (Org.) Measuring Corruption (Law, Ethics and Governance).  Burlington: Ashgate Publishing.

PUTNAN, Robert. 1996. Comunidade e Democracia. A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: FGV.

PIZZORNO, Alessandro. 1992. La corruzione nel sistema político. Em Scambio occulto,  Bologna.

POWER, Timothy; GONZALEZ, Julio. Cultura Política, Capital Social e Percepções sobre Corrupção: Uma Investigação Quantitativa em Nível Mundial. Revista de Sociologia e Política, v. 21, 2003.

ROSE-ACKERMAN, Susan. 1999. Corruption and Government: Causes, Consequences, and Reform. London: Cambridge University Press.

ROSE-ACKERMAN, Susan. 1978. Corruption: A Study in Political Economy. New York: Academic Press.

ROSE-ACKERMAN, Susan. 1975. “The Economics of Corruption.” Journal of Public Economics 4(2):187-203.

SAJO, András. 2003. From corruption to extortion: conceptualization of post-communist corruption. Crime, Law and Social Change. Vol. 40. P. 171-194.

SARTORI, Giovanni. 1970. Concept Misformation in Comparative Politics. American Political Science Review. 64: 1033-1053.

SILVA, Marcos F. 2001. A Economia Política da Corrupção no Brasil. São Paulo: SENAC.

SPECK, Bruno W. 2002. O Controle da Corrupção como Desafio Transnacional, in: Bruno Wilhelm Speck (org.): Caminhos da transparência, Campinas: Editora Unicamp.

SPECK, Bruno W. Mensurando a Corrupção: Uma Revisão de Dados Provenientes de Pesquisas Empíricas in: Cadernos Adenauer, Fundação Konrad Adenauer, São Paulo, no. 10. Dezembro de 2000. P. 7-46

SPECK, Bruno. W. Fraude e Corrupção como Desafio para as Democracias Contemporâneas. Debates, São Paulo, v. 17, p. 39-58, 1998.

TANZI, Vito. 1997. “Corruption, governmental activities and markets.” Trends in Organized Crime 2(4):67-67.

THEOBALD, Robin. 1990. Corruption, Development, and Underdevelopment. Duke University Press.

TREISSMAN, Daniel. 2007. “What have we learned about the causes of corruption from ten years of cross-national empirical research?.” Annual Review of Political Science 10.

UNODC. 2002. Draft United Nations Convention against Corruption (Ad Hoc Committee for the Negotiation of a Convention against Corruption). . [S.l.]: UNODC. Disponível em: <http://www.unodc.org/pdf/crime/convention_corruption/session_1/261_3_p1_e.pdf>.

UNODC. 2003. United Nations Convention Against Corruption. . [S.l.]: UNODC. Disponível em: <http://www.unodc.org/documents/treaties/UNCAC/Publications/Convention/08-50026_E.pdf>.

VISHNY, Robert, e Andrei SHLEIFER . 1993. “Corruption.” Quarterly Journal of Economics.

WARREN, Mark E. 2004. What Does Corruption Mean in a Democracy? American Journal of Political Science. Vol. 48, No. 2. p. 328-343.

WEBER, Max. 1949. The Methodology of the Social Sciences. New York: Free Press.


Notas

[1] Segundo Max Weber (1949, p. 104-105, tradução nossa): “A história das ciências sociais é, e continua sendo, um processo contínuo na tentativa de ordenar a realidade analiticamente por meio da formulação de conceitos [...]. Os grandes avanços na esfera das ciências sociais estão substantivamente ligados com as mudanças dos problemas culturais práticos e o esforço crítico na construção dos conceitos.”

[2] Maiores informações sobre os desafios da conceitualização podem ser obtidas em Reinhard Bendix (1963), Giovanni Sartori (1970), David Collier e James Mahon (1993).

[3] Infelizmente não existe uma definição única, abrangente e universalmente aceita de corrupção. A prova disso é que em 2002 os participantes da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção decidiram não adotar nenhuma definição explícita de corrupção, embora houvesse propostas para listar “tipos” ou “atos” específicos de corrupção (UNODC, 2003).

[4] Tais abordagens podem ser encontradas nos artigos que compõem a obra “Corrupção: Ensaios e Críticas” de Leonardo Avritzer, Newton Bignotto, Juarez Guimarães e Heloisa Murgel Starling (2008).

[5] Art. 317º: solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida ou aceitar promessa de tal vantagem. Art. 333°: ao prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de oficio (BRASIL, 1940).

[6] Nesse sentido a corrupção corresponderia a uma infração da ética utilitarista cristalizada na máxima do: “maior bem ao maior número de pessoas”. (BENTHAM, 2000 [1781])

[7] Neste sentido, a definição de corrupção centrada no setor público, envolve uma concepção moderna do Estado, no sentido cunhado pela ideologia liberal, que busca assegurar a divisão entre o Estado (res publica) e a sociedade (res privada) (SILVA, 2001; WARREN, 2004). Este desejo implícito de separação é reforçado pelo ideal de honestidade e imparcialidade da administração pública que oferece as definições de corrupção certa “precisão espúria”, quando informadas pelo tipo ideal weberiano da burocracia racional legal, baseada no universalismo e na impessoalidade que, na realidade, são valores peculiares a somente uma parcela das sociedades humanas (THEOBALD, 1990, p. 73).

[8] Como salienta Patrick Dobel (1999, p. 130), a noção de corrupção como “poluição” do público pelo privado não é adequada, pois não há nada errado em perseguir o interesse próprio, o problema consiste na falha pessoal de não limitar estes objetivos. Na verdade, este desejo implícito de separação do conceito de corrupção é reforçado pelo ideal de honestidade e imparcialidade da administração pública que oferece as definições ocidentais de corrupção certa “precisão espúria”, quando informadas pelo tipo ideal weberiano da burocracia racional legal, baseada no universalismo e na impessoalidade que, na realidade, não são familiares a muitas sociedades.  (THEOBALD, 1990, p. 73)

[9] Com pequenas alterações esse modelo multilateral também foi explorado por Donatella Della Porta e Alberto Vanucci (1999).

[10] O ladder of generality, na linguagem de Giovani Sartori (1970).

[11] As relações de confiança estabelecidas entre os cônjuges ou entre professores e alunos, por exemplo, não constituem um objeto válido de estudos da corrupção.

[12] As recentes descobertas realizadas pela investigação empírica acerca das causas e consequências da corrupção vêm sendo marcadas pela controvérsia a respeito da validade, confiabilidade, amostragem, e pelo fato dos índices de corrupção baseados na experiência não estarem correlacionados aos índices de percepção (TREISSMAN, 2007).


ABSTRACT: This article aims to review the conceptual approaches of corruption. To do so, the article explains the currently analytical basis of corruption and discusses its possibilities for improvement.

KEY WORDS: Methodology; Corruption; Conceptualization; Corrupt Transaction.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
James Batista Vieira

Doutorando em Ciência Política (IESP/UERJ)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

VIEIRA, James Batista. Corrupção: um mapa analítico. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3384, 6 out. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/22759. Acesso em: 25 abr. 2024.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos