Os novos "pratiotas" na República de Benjamin Constant

03/06/2016 às 09:31
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O golpe de estado de 2016 não é um acidente: ele apenas reiterou uma tradição republicana, a do pratiotismo.

Sempre que pode, José Serra demonstra seu estranho patriotismo.

Quando foi candidato a Presidente ele prometeu às petrolíferas norte-americanas uma mudança na legislação brasileira sobre exploração de petróleo. Quando a Chevron causou um vazamento porque estava roubando petróleo do Pré-Sal, ele ficou em silêncio. Há alguns meses José Serra disse que não tem nenhum problema em privatizar a Petrobrás. É dele o mais novo Projeto de Lei, convenientemente apresentado durante uma grave crise política, com a finalidade de transformar nosso país numa província petrolífera dos EUA. Agora que assumiu o Ministério das Relações Exteriores, José Serra trabalha diariamente para destruir a imagem do Brasil e para prejudicar os interesses de longo prazo do país.

A conduta de Serra evoca uma conversa entre o Visconde de Taunay (1843-1899) e Benjamin Constant (1833-1891) pouco depois da Proclamação da República:

“Mezes após a proclamação da República, encontrando-se o Visconde de Taunay com Benjamin Constant, poz-se êste a queixar-se amargamente do regimen por êle próprio implantado.

-Olhe - dizia - eu contava com sincero patriotismo e só tenho encontrado “pratiotismo”. Conhece a palavra?

Taunay fez um sinal significativo. E Benjamin:

-Inventei-o para o meu uso; ha simples transposição de um "r” da segunda silaba para a primeira. “Pratiotismo” é o amor incondicional, acima de tudo, do “prato”, da barriga, do interesse, o sentimento que inutilisa, espesinha e conculca o patriotismo.”  

(O Brasil Anedótico, obras completas de Humberto de Campos, livraria José Olympio, Rio de Janeiro, 1936, p. 142/143)

José Serra tem sido um perfeito “pratiota”. Ele pede voto aos eleitores brasileiros para cuidar bem dos interesses dos norte-americanos que cuidam do prato dele.

Na data de hoje fui obrigado a revisar este texto, pois Michel Temer pagou com aumento salarial o apoio do Judiciário ao golpe que o levou ao poder. O novo tirano cortará programas sociais para custear este aumento de despesa. Estamos, portanto, diante de uma verdadeira redistribuição de renda ao contrário:  aqueles que tem pouco perdem o apoio estatal, aqueles que são remunerados como nababos passam a ganhar ainda mais.

Tudo bem pesado, os juízes brasileiros devem ser considerados os maiores "pratiotas" de todos os tempos. Eles foram capazes de vender um golpe que será pago pelo Estado com os impostos dos cidadãos lesados para poder encher ainda mais seus pratos folheados a ouro.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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