O coração rompido da Lava Jato

25/09/2016 às 09:57
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É evidente para mim a corrupção dos protagonistas da operação que supostamente a combate.


 

A palavra corrupção tem sua origem no vocábulo latino corrupta, que é a junção das palavras cor (coração) e rupta (quebra, rompimento). Na origem, portanto, a corrupção não está relacionada com a honestidade, mas com a traição. O traidor é um corrupto, porque não há fidelidade no seu coração.

A fidelidade sempre foi considerada uma virtude pela filosofia. A ética rejeita à corrupção o status de virtude. Todavia, nenhuma virtude ou defeito pode ser considerada absoluta. A vida em sociedade sempre complicou as coisas.

Para os romanos, povo mais afeito à política que a filosofia, o homem deveria ser fiel à si mesmo, à sua família, à sua tribo e, principalmente, à cidade de Roma. Os conflitos resultantes destas obrigações, que em razão dos fatos poderiam se tornar mutuamente excludentes, eram resolvidos de maneira elegante. Não poderia ser considerado corrupto aquele que traísse sua família ou tribo para ser fiel a Roma. Mas aquele que traísse Roma não poderia ser considerado fiel pela sua tribo ou família., pois a cidade representava a essência da civilização e sua destruição era considerada um maior mal.

Os romanos obviamente não empregavam os mesmos critérios aos outros povos. Eles consideravam virtuosos aqueles que traiam suas próprias cidades em benefício de Roma. Nada seria mais estranho para um cônsul romano do que ser acusado de corrupção por ter comprado a lealdade de um inimigo para conquistar com menor esforço a cidade dele.

Quando se tratava de religião, os romanos eram extremamente tolerantes. Eles não proibiam os povos vencidos de cultuarem seus próprios deuses. De fato, durante o Império vários deuses estrangeiros eram cultuados até mesmo em Roma. O que os romanos não admitiam era a intolerância religiosa, como aquela manifestada pelos judeus que se rebelaram porque um soldado ousou peidar durante uma celebração religiosa. O fanatismo dos judeus provocou a rebelião que algum tempo teve que ser massacrada por Roma.

Deltan Dellagnol ataca ferozmente a colonização portuguesa e católica do Brasil. Sérgio Moro parece decidir nos EUA os rumos que serão tomados pela Lava Jato.. Ambos são fiéis a algo ou há alguém, mas a fidelidade deles à legislação e à civilização brasileira é questionável. Ambos têm obrigação funcional de tratar todos os cidadãos (petistas ou não, católicos ou não) da mesma maneira. Mas eles escolhem os réus que irão perseguir. Ambos fustigam exageradamente alguns (Guido Mantega, petista) e deixam outros em paz (esposa e filha de Eduardo Cunha, evangélicas).

Os protagonistas da Lava Jato dizem que querem extirpar a corrupção do Brasil, mas eles toleram os corruptos que não são petistas e até rejeitam delações contra Aécio Neves. O excesso de zelo partidário deles é quase tão evidente quando o patriotismo norte-americano que eles demonstram. Os corações deles já foram corrompidos por convicções anti-petistas e estrangeiras? Certamente não há virtude funcional ou patriótica no que eles estão fazendo.

Vários juristas brasileiros e estrangeiros afirmam, com argumentos relevantes e plausíveis, que Deltan Dellagnol e Sérgio Moro já estão corrompendo o Direito Penal e o Direito Constitucional para impor ao país uma nova espécie da religião: o anti-petismo. O resultado certamente não será a preservação da civilização brasileira (que inclui os católicos e os petistas), mas um verdadeiro genocídio. É disso que o Brasil precisa?   

Não existem instituições perfeitas no Brasil, prova disto é o fato do MPF e da Justiça Federal terem adotado o credo anti-petista e anti-católico se esquecendo de preservar a igualdade entre os cidadãos e a liberdade deles de escolher seu partido e sua religião. Nenhuma civilização é isenta de corrupção, todas merecem ser preservadas. Todavia, os conflitos e contradições provocados pela Lava Jato estão nos obrigando a reconhecer que fomos lançados num caldeirão conflituoso em que cada qual será obrigado a escolher ser fiel exclusivamente à sua classe social, à sua religião, ao seu partido político e à sua nação.

Se me obrigarem a optar entre a corrupção dos brasileiros que defendem meu país e a dos agentes públicos que promovem insidiosamente os interesses, o patriotismos e uma religião estrangeira no Brasil eu não serei corrompido. Minha fidelidade será à minha nação, pois ela está e sempre estará acima de qualquer outra. Ao agir assim eu me conecto com a essência romana que foi para cá transportada pelos meus antepassados portugueses e católicos odiados pelo procurador da Lava Jato.  

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

advogado em Osasco (SP)

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