3. Os investimentos brasileiros diretos na América Latina
Os investimentos brasileiros diretos na América Latina são relevantes, principalmente em determinados países e em setores específicos. Conforme dados coletados pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, think tank independente, os investimentos brasileiros nos países vizinhos é crescente, ainda que, com freqüência, por razões diversas, são sejam identificados pelo Banco Central do Brasil.
Márcia Tavares explica que uma das principais características do empresário brasileiro é sua capacidade de atuar em situações de instabilidade e de risco elevado, atributo que favorece a conquista de mercados na América Latina. A autora, na realidade, afirma que empresas latino-americanas, em geral, apresentam vantagens, em relação a atores exteriores, no processo de conquista de mercados da região.
Foram identificados, apenas para o ano de 2011, quase quarenta projetos (incluindo os anunciados) de investimento direto brasileiro em países da América Latina. Alguns desses aportes alcançam somas bilionárias, como no caso do investimento da EBX, no complexo hidrelétrico de Castilla, no Chile. Entre os investimentos anunciados, devem ser destacados, no ano de 2011, os anunciados pela Votorantim (R$ 3,2 bilhões) e pela Braskem (R$ 3 bilhões), ambos direcionados ao Peru. Os casos mais relevantes serão analisados abaixo.
De antemão, explica-se que não serão tratados os países da América Central e do Caribe, pois, como muitos deles constituem paraísos fiscais, os dados referentes aos investimentos provavelmente estariam distorcidos. Quanto aos países que, apesar de não pertencerem a essas duas regiões, não foram mencionados, deve-se inferir que não são destinos efetivos de investimentos brasileiros. No que concerne às setores dos investimentos, optou-se por uma classificação simples baseada em três categorias: indústria, agropecuária e serviços. Mineração, construção civil, processamento de alimentos e distribuição de energia elétrica, são, neste trabalho, abarcados pelo setor industrial. Transporte, logística, intermediação financeira, tecnologia da informação e comércio são incluídos no setor de serviços. A agropecuária, por fim, abrange apenas cultivo vegetal e criação animal, sem incluir qualquer atividade que se desenvolve com base nessas duas ou em etapa posterior a essa fase inicial.
3.1. Argentina
O primeiro país que deve ser destacado é a Argentina, principal parceiro do Brasil no Mercosul, e destino precípuo dos investimentos brasileiros na região. Ao lado do Chile, o Brasil é o maior investidor do subcontinente sul-americano na Argentina. Corrêa e Lima afirmam que os sub-setores mais atrativos para o capital brasileiro são os de energia, de infra-estrutura, de comércio (inclusive distribuição) e de serviços. (CORRÊA e LIMA, pp. 253-254)
Márcia Tavares, por sua vez, explica que os investimentos diretos brasileiros na Argentina cresceram no final dos anos 1990 e no começo dos anos 2000. Segundo a autora, as causas desse aumento estavam relacionadas a aspectos inerentes à economia Argentina, bem como ao amadurecimento do processo de internacionalização das companhias brasileiras. Houve, dessa forma, o surgimento de grandes oportunidades decorrentes da crise econômica argentina, e o aproveitamento efetivo destas por parte de empresas brasileiras fortalecidas e dotadas de know how nos procedimentos jurídicos e financeiros de fusão e de aquisição de empresas estrangeiras. Tavares destaca que aspectos como proximidade geográfica, compatibilidade cultural e pertencimento ao mesmo bloco econômico também foram relevantes para tomada de decisão de investimento.
Esses investimentos brasileiros foram materializados de forma emblemática nos anos 2002, 2005 e 2006. Em 2002, o país alcançou posição de maior investidor estrangeiro na Argentina, principalmente em razão da compra das petrolíferas Pérez Compac e Pecom Energia pela Petrobrás. Em 2005, a compra da Swift Argentina pelo grupo Friboi e a aquisição da Loma Negra pela Camargo Corrêa foram o par de operações mais relevantes ocorridas entre empresas dos dois países. Finalizado em 2006, o controle da Quilmes pela AmBev segue nessa linha de investimento, baseado em aquisições e em controle acionário.
Entre os anos de 2007 e 2012, conforme os dados da tabela anexa, as empresas brasileiras anunciaram ou efetivaram mais de nove dezenas de projetos para o território argentino. Além de quantitativamente elevado, os projetos são bastante diversificados, pois abarcam quase todos os setores da economia. Em 2007, a Petrobrás e a Mafrig foram as duas maiores investidoras brasileiras na Argentina. Ao todo, naquele ano, dezoito companhias distintas anunciaram aportes no país vizinho. Além das duas citadas, no setor industrial, devem ser mencionadas as seguintes empresas: Dass (couro e calçados), Artecola (produtos químicos), AmBev (bebidas), Cyrela (construção civil). No ano seguinte, os destaques foram os empreendimentos no setor de serviços, em especial nos ramos de informática, de transportes e de intermediação financeira. Segundo dados do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, as seguintes companhias destacaram-se: Itaú, Gafor, Totalcom, Dextera, América Latina logística e Ação informática.
No biênio de 2009 e 2010, os aportes relacionados à produção industrial - nos setores de mineração, têxtil, metalúrgico, calçadista e de construção civil - são os mais relevantes. Nos dois anos subseqüentes, foram anunciadas (ou efetuadas) mais de duas dezenas de investimentos diretos brasileiros na Argentina, entre os quais se incluem aportes de empresas como Vicunha, Votorantim, Penalty, Moura e Odebrecht, o que indica a manutenção da predominância de investimentos em setores diversos da indústria,
Pode-se afirmar que, hodiernamente, a relação econômica entre Brasil e Argentina é madura e complexa. Além de intercâmbio comercial intenso entre os dois países, os investimentos mútuos adquirem relevância crescente. Na atualidade, os investimentos de empresas brasileiras dirigidos à Argentina são volumosos e heterogêneos, ainda que o setor industrial - principalmente os relacionado à extração mineral e à produção de roupas e de calçados - ainda seja o mais relevante. Com base nessas informações, pode-se inferir que, no caso da indústria extrativa, setor que demanda grandes aportes iniciais, a internacionalização direcionada ao país vizinho foi possibilitada pela existência de excedentes de capital, vantagem comparativa fundamental nos grandes empreendimentos de mineração e de exploração de hidrocarbonetos. No que concerne aos investimentos na indústria têxtil e calçadista, pode-se inferir que são estratégias de antecipação à concorrência de produtos asiáticos. A indústria alimentícia, por sua vez, dotada de vantagens específicas adquiridas na atuação no mercado doméstico, também diversifica os riscos por meio de atuação em mercado estrangeiro próximo.
3.2. Bolívia
A Bolívia, país membro da Comunidade Andina, não está entre os principais destinos dos investimentos brasileiros. A despeito de suas riquezas minerais, de seu potencial energético e de sua proximidade espacial, foram efetivados, na última meia década, apenas dois projetos de investimentos brasileiros em território boliviano. O investimento da Petrobrás, anunciado no ano de 2010, constitui na aquisição de parcela (30%) dos direitos de exploração do campo de Itaú, os quais pertenciam à empresa francesa Total. O outro investimento, anunciado em abril de 2010, pela empresa Braskem, objetiva a instalação de uma planta industrial de eteno para a produção de polietileno.
Ambas as empresas que investem em território boliviano objetivam - com base em suas vantagens técnicas específicas e em sua disponibilidade de capital - a exploração das riquezas naturais do país, principalmente as reservas de petróleo e de gás natural. A exigüidade dos investimentos, entretanto, decorre da ausência de atrativos econômicos domésticos além das reservas de hidrocarbonetos, uma vez que o país apresenta mercado consumidor empobrecido, infra-estrutura precária e grande instabilidade institucional e política. Embora o governo nacionalista do presidente Evo Morales tenha relevante apoio popular e tenha honrado as indenizações decorrentes da expropriação de propriedades estrangeiras, sua atitude, fundamentada em considerações políticas defensivas (Gisbert, pp. 28), na perspectiva da iniciativa privada brasileira, não é favorável aos negócios e aos aportes diretos, uma vez que gera insegurança jurídica e incerteza quanto à remuneração do capital investido.
3.3. Chile
No Chile, maior investidor sul-americano na região, foram identificados, do ano de 2007 ao ano de 2012, vinte cinco projetos de empresas brasileiras. Nos anos de 2007 e de 2008, investimentos na área financeira e na de extração de minerais foram os principais destaques, em especial o aporte de mais de três bilhões da Petrobrás. A empresa brasileira comprou os ativos da Esso Chile, do setor de distribuição de combustível. Na mesma operação, a Petrobrás adquiriu 22% da Sociedad Nacional de Oleoductos e 1/3 da Sociedad de Inversiones de Aviación. A estatal, dessa forma, passa a ocupar 16% do comércio minoritário de combustíveis do Chile, bem como 14% do mercado industrial. Ainda, no ano de 2008, deve ser mencionado o consseu iderável aporte feito pela MPX (US$ 4,4 bilhões) no setor de termelétrico. O investimento foi direcionado a um projeto de instalação de complexo de geração de energia térmica no norte do Chile, para produzir em torno de 2.100 (dois mil e cem) megawatts (MW) de energia elétrica.
Nos anos de 2009 e de 2010, os investimentos brasileiros foram concentrados nos seguintes setores: indústria química e alimentícia, prestação de serviços de transporte e de armazenagem, bem como aquisições de empresas do ramo da construção civil. Em 2011, o setor que mais absorveu investimentos brasileiros foi o bancário (três projetos), ainda que o maior aporte tenha sido da empresa EBX, direcionado ao complexo hidrelétrico de Castilla.
Os investimentos de empresas brasileiras no Chile ainda são fortemente concentrados nos setores industriais de extração mineral, de processamento de materiais básicos e de energia. O ambiente juridicamente estável, a previsibilidade institucional e a adequada rede de fornecedores domésticos e de benefícios logísticos, somados à riqueza de recursos minerais, são características que favorecem o investimento estrangeiro. As companhias brasileiras que direcionam seus capitais para o país andino, geralmente grandes empresas exploradoras de recursos básicos, buscam fazer uso de vantagens técnicas específicas e de excedente de capital. Ao lado disso, elas objetivam o estabelecimento antecipatório no mercado, aspecto que, na indústria de extração, pode ser fundamental para superar a concorrência.
3.4. Colômbia
Entre os anos de 2007 e 2012, como expressa tabela anexa, constam vinte e quatro projetos de investimentos brasileiros diretos na Colômbia. No ano de 2007, destacam-se os investimentos feitos pela Natura (aproximadamente R$ 3 milhões), multinacional da área de cosméticos, que objetivam a distribuição e a comercialização de seus produtos em território colombiano. Deve-se notar que o aporte realizado pela Natura é bastante comum em empresas que desenvolveram praticas exportadoras exitosas, baseadas em produtos diferenciados e em marca internacionalmente reconhecida. O estabelecimento de escritórios comerciais e de redes de distribuição em mercados estrangeiros tende a incrementar as exportações da empresa, cujos produtos continuam a ser produzidos em seu no país de origem. Esse esforço da Natura, empresa que faz amplo uso de venda direta, foi iniciado em Bogotá, e, posteriormente, estendido para outras localidades da Colômbia como Bucaramanga, Floridablanca, Piedecuesta e Villavicencio.
Da série analisada, o ano de 2008 foi mais relevante no que concerne aos investimentos de empresas brasileiras na Colômbia. Além da continuidade dos investimentos da Natura, foram identificados mais de uma dezena de projetos direcionados ao território colombiano, entre os quais se destacam investimentos da Vale (R$ 300 milhões), da Votorantim (R$ 1,4 bilhão) e de diversas empresas de serviços (informática, comércio de bijuterias, educação).
No ano de 2012, destaca-se a diversificação dos investimentos brasileiros em território colombiano, por meio de aportes de empresas de tecnologia e de serviços de informática, como ocorrera no ano de 2010, após os investimentos da Nexxera, empresa de TI, atuante no mercado de serviços financeiros. A aquisição da empresa espanhola Groupalia, dedicada a compras coletivas pela internet, pelo grupo brasileiro Peixe Urbano (que também anunciou aportes no Chile e no México), é exemplo dessa espécie de investimento que se origina de empresas que fazem uso de novas tecnologias.
As considerações acerca dos atrativos para os investimentos brasileiros no Chile são parcialmente aplicáveis para o caso colombiano. O mercado consumidor da Colômbia, entretanto, é mais amplo e mais dinâmico do que o chileno, aspecto que possibilita investimentos mais diversificados e complexos. Em razão disso, empresas brasileiras de tecnologia da informação, de serviços financeiros e de comércio varejista, dotadas de vantagens específicas (tecnologia própria, métodos inovadores de vendas, produtos diferenciados) são atraídas pelo mercado colombiano em grau maior do que ocorre no caso chileno.
3.5. Guiana
A Guiana não constitui grande receptora de investimentos brasileiros. No período analisado, de 2007 a 2012, foi constatado, conforme dados do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, apenas o projeto da Eletrobrás, referente à construção de usina hidrelétrica que abastecerá a Guiana com 100 MW e transferirá para Boa Vista, em Roraima, outros 700 MW.
Os investimentos direcionados à Guiana, certamente, não são motivados por seu diminuto mercado consumidor. Existe, entretanto, grande potencial hidromineral que pode ser explorado em seu território, aspecto que, futuramente, pode atrair aportes de grandes empresas brasileiras.
3.6. México
A economia do México, membro da Aladi e do NAFTA, é a segunda mais importante da América Latina, e o quinto maior receptor de investimentos brasileiros na América Latina. Apesar das estreitas relações do país com os EUA, ele tem atraído investimentos de diversas empresas brasileiras (o Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento identificou, no período entre 2007 e 2012, duas dezenas de projetos de investimento). Na realidade, o acordo de livre comércio firmado entre os países da América do Norte, o Nafta, tem constituído grande atrativo para investimentos estrangeiros no México, pois, por meio dos benefícios garantidos pelas normas do bloco econômico, as empresas estabelecidas no México têm acesso direto aos afluentes mercados de Estados Unidos e de Canadá.
No ano de 2007, devem ser mencionados os investimentos das empresas Gerdau (metalurgia básica), Metalfrio Solutions (eletrônica de precisão) e Artecola (adesivos industriais), as quais aportaram - mediante aquisição de ativos de companhias locais e por meio de projetos em parceria com outras empresas - quase um bilhão de dólares em território mexicano. Nos dois anos seguintes, indústrias importantes anunciaram investimentos (e.g. Gerdau, Borrachas Vipal, Braskem, Eurofarma, Unigel), o que indica interesse das corporações brasileiras em aproveitar o complexo e desenvolvido parque industrial estabelecido em território mexicano, com a finalidade de localizar novos fornecedores e de obter ganhos de produtividade.
Entre os anos de 2010 e 2012 (até o primeiro semestre), as empresas de serviços somaram-se às companhias do setor secundário da economia. Aquelas demonstram interessem em explorar o grande mercado consumidor mexicano e dos outros integrantes do NAFTA, uma vez que os acordos constituintes desse bloco, diferentemente de outros tratados de livre comércio, contêm previsões acerca da liberalização de serviços. (Celli Júnior, pp. 31). Empresas como Bradesco, Bio-Ritmo e Peixe Urbano, em razão das promissoras perspectivas de lucros em mercado expandido e afluente, decidiram iniciar operações em território mexicano, o que, de certa forma, destoa do perfil tradicional dos investimentos brasileiros dirigidos ao país latino da América do Norte.
Como ocorre na Argentina, no Chile e na Colômbia, os investimentos brasileiros no México são bastante diversificados. As indústrias de bens de capital fazem uso de suas vantagens específicas e aproveitam a existência de do complexo industrial amplo e heterogêneo do México. As empresas do setor de serviços, por sua vez, antecipam-se à concorrência mediante expansão de suas atividades no dilatado mercado consumidor dos países do NAFTA.
3.7. Paraguai
Embora seja membro do Mercosul e localize-se próximo à Região Sudeste, onde é encontrada a porção territorial economicamente mais dinâmica do Brasil, o Paraguai ainda não é destino relevante dos investimentos de empresas brasileiras. Nos últimos cinco anos, foram detectados apenas quatro empreendimentos brasileiros no território do país vizinho. A Vale, no ano de 2009, adquiriu ativos da mineradora Rio Tinto; a Camargo Corrêa, no mesmo ano, iniciou a construção de planta fabril para processamento de minerais não metálicos, e a Eurofarma anunciou a compra de laboratórios químicos; em 2010, o grupo Bourbon, que atua no setor hoteleiro, declarou participar de empreendimento vinculado à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
Os principais aportes brasileiros no Paraguai são determinados pela proximidade geográfica e pela integração econômica possibilitada pelo Mercosul, características que possibilitam a utilização de vantagens específicas inerentes a empresas brasileiras do ramo de construção civil, de serviços e da indústria de bens de capital. Entretanto, a ausência de grandes reservas de recursos minerais, o pouco potencial de compra do mercado consumidor interno, a baixa qualificação de sua mão de obra são aspectos que reduzem a atratividade do país.
3.8. Peru
O Peru, outro membro da Comunidade Andina, é o quinto maior destino de investimentos brasileiros na América Latina. Entre os anos de 2007 e 2012, foram constatadas mais de duas dezenas de projetos de empresas brasileiras. No setor industrial e extrativo, o qual abarca aproximadamente 90% de todos os aportes, destacam-se as seguintes companhias: Artecola, Petrobrás, Eletrobrás, Vale, Gerdau, Neogás, OAS, Votorantim, Braskem. Os investimentos no setor de serviços, por sua vez, são ainda bastante incipientes e restritos, conforme os dados da tabela em anexo.
Nos anos de 2008 e de 2009, a Eletrobrás e a Braskem, empresas que atuam, respectivamente, nos setores de distribuição de energia e de metalurgia, anunciaram investimentos bilionários em território peruano. Esta última, por meio de aporte no valor de quase US$ 1,5 bilhão, objetivava incrementar, em mais seis vezes, a produção de sua fábrica Sider Peru (dedicada ao ramo de metalurgia básica), na localidade de Chimbote (Ancash). No ano de 2011, a Braskem foi responsável pelo maior investimento feito no Peru (US$ 3 bilhões), quantia destinada à construção de complexo petroquímico.
De forma semelhante ao que ocorre no Chile e na Colômbia, o Peru é caracterizado por grande riqueza de recursos naturais e por estabilidade institucional, aspectos que, em regra, são valorizados pela iniciativa privada, em especial pelas empresas brasileiras que condicionam sua eficiência produtiva e suas vantagens específicas ao acesso a matéria prima abundante.
3.9. Uruguai
O Uruguai, outro país membro do Mercosul, é o segundo principal receptor de investimentos brasileiros (superado apenas pela Argentina). No período analisado, foram identificadas quase três dezenas de projetos de empresas brasileiras, o que, de certa forma, dada dimensão modesta do mercado interno uruguaio, constitui volume bastante relevante.
No ano de 2007, devem ser destacadas indústrias alimentícias, como Mafrig e Bom gosto; em 2008, houve investimentos da Bidim (têxtil), da Bom gosto (alimentos), da JHSF (construção civil), da Camil (alimentos) e do grupo Votorantim (produtos químicos). Naquele ano, ao lado dos projetos industriais, identificou-se investimento da Ação informática, empresa que presta serviços de tecnologia da informação e de distribuição de produtos da IBM, Oracle, EMC e RedHat. Nos dois anos seguintes, a indústria de alimentos perde participação entre os investidores, em benefício de outros segmentos mais complexos (e.g. mineração, energia, plásticos, produtos químicos). Nesse período, destacam-se as seguintes companhias: Vale, Petrobrás, Eletrobrás, Profinance, Tigre, Eurofarma e Intercity. Nos últimos tempos, aparentemente, houve diminuição no volume dos investimentos. O setor de serviços financeiros, em especial a abertura de agências bancárias, tem concentrado a maior parcela dos aportes dos dois últimos anos.
Deve-se destacar que o Uruguai, apesar do pequeno mercado consumidor, tem atraído muitos investimentos de empresas brasileiras, as quais apresentam excedente de capital e experiência na realização de grandes empreendimentos na área de energia e de mineração. A população relativamente rica e bem educada do Uruguai, além disso, é interessante para empresas prestadoras de serviços de alta tecnologia, as quais encontram, nos habitantes locais, mão de obra e consumidores necessários para seu funcionamento.
3.10. Venezuela
Apesar do potencial de seu mercado consumidor e da situação de membro em processo de adesão, a Venezuela não constitui destino muito relevante de investimentos brasileiros. Entre os anos de 2007 e 2008, empresas brasileiras anunciaram sete investimentos direcionados ao território venezuelano. Os dois mais importantes, em razão das quantias bilionárias envolvidas, foram feitos pela Braskem, destinados à fabricação de eteno, polietileno e polipropileno, produtos derivados do petróleo. Além disso, no ano de 2010, a Odebrecht anunciou que aporte de mais de US$ 50 milhões na área de exploração de petróleo. Conforme dados detalhados na tabela em anexo, a companhia brasileira e a estatal PDVSA acordaram constituir uma empresa de capital misto, a fim de explorar quatro campos de petróleo (Zulia). A filial da PDVSA terá 60% e o restante será da parte brasileira.
A Venezuela, em certo sentido, apresenta problemas semelhantes aos da Bolívia: instabilidade social, ausência de previsibilidade jurídica e institucional, predomínio de políticas econômicas nacionalistas. Na perspectiva do investidor privado, essas características aumentam o risco de investimento no país. Essa situação, entretanto, não obstou alguns investimentos importantes, baseados em expressivo know how de companhias brasileiras, no setor infra-estrutura e de processamento de materiais derivados do petróleo