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Abuso sexual na infância e suas repercussões na vida adulta

Saiba um pouco sobre os reflexos e transtornos sofridos por adultos que, quando crianças, foram vítimas de abuso e violência sexual.

RESUMO: O objetivo geral deste trabalho é relatar os transtornos decorrentes em crianças abusadas e violentadas sexualmente e suas repercussões na vida adulta, através de uma narrativa. Para a realização do presente artigo, usou-se de estudos realizados através de livros, artigos científicos e pesquisas já publicadas por outros autores, que auxiliaram no maior entendimento do tema.

Palavras-chave: Violência sexual, Psicologia Jurídica, Abuso Sexual.


1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa a proporcionar aos acadêmicos uma reflexão contextualizada, conferindo-lhe condições, fortalecendo e ampliando seus conhecimentos e repertórios, e, principalmente, buscar entender alguns dos transtornos gerados pelo abuso sexual em crianças e a forma que se deve realizar o tratamento psicológico.

“O abuso sexual deixa a maioria das pessoas incomodadas. É triste pensar que os adultos causem dor física e psicológica nas crianças para satisfazer seus próprios desejos, especialmente quando esses adultos são amigos confiáveis membros da família.” (Watson, 1994, p.12, ).

A violência sexual é qualquer ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Sua intenção é estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. Esse episódio violento pode variar desde atos que não se produzem o contato sexual (exibicionismo, produção de fotos), até diferentes ações que incluem contato sexual com ou sem penetração. Engloba também a situação de exploração sexual visando lucros como é o caso da prostituição e da pornografia. (BRASIL, 2002; apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)

Segundo PFEIFFER L. e SALVAGNI E. P. (2005) a violência sexual trata-se de um episódio que atinge todas as idades, classes sociais, etnias, religiões e culturas e pode ser considerado como qualquer ato ou conduta baseado no gênero, que cause dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à vítima e, em extremos, a morte.

A vivência de situações traumáticas, como o abuso sexual durante a infância e a adolescência, pode acarretar sérios prejuízos tanto ao desenvolvimento infanto-juvenil quanto para a vida adulta, com repercussões cognitivas, emocionais, comportamentais, físicas e sociais, que variam para cada indivíduo (Briere e Elliot et al., 2003 apud Rangé B.)


2 DESENVOLVIMENTO

Segundo HABIGZANG, L. F. e KOLLER, S. H. (2011) a violência sexual contra crianças e adolescentes é apontada como um problema de saúde pública, devido seus efeitos negativos para o desenvolvimento cognitivo, emocional, comportamental e físico das vítimas e por seus altos índices de ocorrência em diferentes níveis socioculturais. O abuso sexual tem sido indicado como uma das formas mais graves de violência, pois frequentemente está relacionado a abusos físicos e psicológicos.

De acordo com SANDERSON (2004, apud HABIGZANG , L. F. e KOLLER, S. H. 2011), as estimativas apontam que, uma em cada quatro meninas e um em cada seis meninos, são vítimas de alguma forma de abuso sexual antes de completar a maioridade.

Segundo dados epidemiológicos, a maioria dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes ocorrem dentro da casa da vítima, se configurando como abuso sexual incestuoso, sendo o pai biológico o principal culpado. As meninas são as principais vítimas, principalmente dos intrafamiliares, e a idade de início dos abusos é precoce, entre os 5 e os 10 anos. A mãe geralmente é a pessoa mais procurada na solicitação de ajuda, e a maioria dos casos é revelada pelo menos um ano depois do início do abuso sexual. (BRAUN, et al., 2002; apud HABIGZANG , L. F. e KOLLER, S. H. 2011)

Azevedo e Guerra (1988, apud CAPITÃO C. G., ROMARO R. A., 2008) averiguaram por meio de pesquisa realizada no município de São Paulo, que os casos denunciados aos órgãos públicos são raros. Apenas cerca de 6,5% das vítimas são do sexo masculino. Nos casos de incestos, 70% das vezes o autor do abuso foi o pai biológico e que esse tipo de agressão não ocorre apenas nas camadas menos favorecidas, mas que são frequentes nas camadas sociais economicamente mais privilegiadas.

Em uma pesquisa realizada no Brasil, Vaz (2001, apud CAPITÃO C. G., ROMARO R. A., 2008) relata que 80% das vítimas de abuso sexual eram crianças e adolescentes do sexo feminino, sendo que em 75% dos casos relatados, o abusador era o pai ou padrasto.

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Para a maioria dos pesquisadores, o abuso sexual infantil é facilitador para o aparecimento de psicopatologias graves, prejudicando a evolução psicológica, afetiva e social da vítima. Os efeitos do abuso na infância podem se manifestar de várias maneiras, em qualquer idade da vida (ROMARO; CAPITÃO, 2007, p. 151, apud FLORENTINO B. R. B., 2015).

A reação da criança diante vai depender da duração do abuso, já existiu casos de apenas um abuso causar a morte de uma criança, como outros casos não, e da presença ou ausência de figuras de apoio para a criança (familiares, profissionais ou amigos) e da proximidade do vínculo entre a criança e aquele que a agrediu (agravando a vivência de traição de confiança). (AMAZARRAY e KOLLER, 1998; BANYARD e WILIAMS, 1996, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)

Dalgalarrondo (2000, apud FLORENTINO B. R. B., 2015) aponta que alguns estudos apresentam resultados que confirmam existir uma forte relação entre ter sofrido abuso na infância e transtornos de conduta na adolescência e na vida adulta. Alguns transtornos são classificados como transtorno de identidade de gênero. Há também os transtornos de preferência sexual, que incluem as parafilias como fetichismo (dependência de alguns objetos inanimados com estímulo para a excitação e satisfação sexual); voyerismo (excitação sexual em olhar pessoas envolvidas em comportamentos sexuais ou íntimos); sadomasoquismo (preferência por atividade sexual que envolve servidão ou a influição de dor ou humilhação); pedofilia (preferência sexual por crianças púberes); e outras, conforme descritas na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento – CID – 10 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993).

Hiperatividade ou retraimento; baixa autoestima; dificuldade de relacionamento com outras crianças ou com adultos, acompanhada de reações de medo, fobia ou vergonha; culpa, depressão, ansiedade e outros transtornos afetivos; distorção da imagem corporal; enurese e/ ou eco prese; amadurecimento sexual precoce, ou masturbação compulsiva; gravidez e tentativas de suicídio tão associadas à violência sexual. (BERKOWITZ et al, 1994, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)

De acordo com BANYARD E AILLIAMS (1996, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004) quando o abuso vem acompanhado de violência física, as consequências de curto prazo tendem a ser mais traumáticas, com ansiedade, depressão e distúrbios do sono.

De maneira evidente, a exposição ao abuso sexual na infância está associada a prejuízos em longo prazo, exibindo fator de risco para o desencadeamento de diversas alterações de ordem psicológica e funcional, entre as quais depressão, ideias suicidas, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático. Através de uma pesquisa realizada, as repercussões devastadoras foram mostradas ao se avaliar a capacidade de resiliência e auto perdão em mulheres sobreviventes de abuso sexual na infância, que apresentaram níveis de desesperança, capacidade para o autoperdão inferiores e níveis mais elevados de sintomas de estresse pós-traumático, quando comparados a outras mulheres que apresentaram as mesmas dificuldades, mas que não foram abusadas sexualmente na infância. São alterações que variam em tempo e intensidade, afetam o referencial de vida de meninas vitimadas e resultam em grandes sofrimentos emocionais. (CARVALHO E LIRA, et al., 2017)

É fundamental que o psicólogo reconheça com clareza o seu papel, suas atribuições e as contribuições que pode conferir ao caso que lhe foi encaminhado (Brito, 2012).  


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema abuso sexual tem sido amplamente tratado pela literatura científica, a psicologia tem dedicado grande atenção nesta área, tendo em vista o envolvimento dos psicólogos no acolhimento a esta população, realizando escutas e auxiliando na amenização da dor. O abuso sexual infantil é um dos problemas de saúde pública, devido à elevada incidência epidemiológica e aos sérios prejuízos para o desenvolvimento das vítimas.

 Os psicólogos podem utilizar recursos teóricos específicos e instrumentos de uso exclusivo dos profissionais, que fortalecem sua atuação na área jurídica em casos tão complexos como os de abuso sexual contra crianças e adolescentes, assim sendo bem preparados podem ser agentes ativos na escuta qualificada e na fala sem dano em casos delicados de abuso sexual infantil.


4 REFERÊNCIAS

ALBERTO, Maria de Fátima Pereira et al . O papel do psicólogo e das entidades junto a crianças e adolescentes em situação de risco. Psicol. cienc. prof.,  Brasília ,  v. 28, n. 3, p. 558-573, set.  2008 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932008000300010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  01  set.  2018.

CAPITAO, Cláudio Garcia; ROMARO, Rita Aparecida. Caracterização do abuso sexual em crianças e adolescentes. Psicol. Am. Lat.,  México ,  n. 13, jul.  2008 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2008000200014&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  01  set.  2018 as 11:47.

FLORENTINO, Bruno Ricardo Bergamo. As possíveis consequências do abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes. Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 2, p. 139-144, maio-ago. 2015. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/fractal/v27n2/1984-0292-fractal-27-2-0139.pdf>.  Acesso em 01/09/2018 as 11:50.

LIRA, Margaret Olinda de Souza Carvalho e et al . ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA E SUAS REPERCUSSÕES NA VIDA ADULTA. Texto contexto - enferm.,  Florianópolis ,  v. 26, n. 3,  e0080016,    2017 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072017000300320&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  01  set.  2018.  Epub 21-Set-2017.  http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017000080016.

PFEIFFER, Luci e SALVAGNI, Edila Pizzato. Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa10.pdf >.  Acesso em 01/09/2018 as 11:52.

Sobre as autoras
Regiane Bueno Araújo

Orientadora da pesquisa. Docente no Curso de Psicologia da Faculdade Campo Real, Psicóloga, Mestranda pela Universidad de La Empresa - UDE em Ciências Criminológico-Forense; Graduada em Psicologia pela UNIPAR, Especialista em Análise do Comportamento Humano e Terapia Analítico Comportamental pela Unipar

Géssika Wroblewski

Acadêmica de Psicologia 10º Período - Faculdade Campo Real

Informações sobre o texto

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