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Delação de Delcídio, Lula como Ministro, gravações liberadas por Sérgio Mouro, o STF sob suspeita: um novo golpe no Brasil?

Guerras civis também são desencadeadas para desestabilizar democracias!

Delação de Delcídio, Lula como Ministro, gravações liberadas por Sérgio Mouro, o STF sob suspeita: um novo golpe no Brasil? Guerras civis também são desencadeadas para desestabilizar democracias!

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A frágil democracia brasileira está sob ameaça de interesses subversivos. A mídia democrática e as autoridades públicas precisam ter o máximo de cuidado em não disparar à resmo sob gravíssimas consequências para o povo, já sofrido.

Delcídio Amaral muda o jogo do poder: todos são culpados

A Operação Lava Jato tomou outro rumo após a delação premiada, bombástica, de Delcídio Amaral. Em sua delação, Aécio Neves, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, José Sarney, Michel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva, Aloizio Mercadante, Antonio Palocci, Erenice Guerra e Fernando Henrique Cardoso são parte de uma trama diabólica contra a democracia.

Istoé

Na matéria da Istoé, Delcídio Amaral fez severas acusações contra o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atual presidenta da República, Dilma Rousseff. Ambos, em poucas palavras, usaram de seus poderes [transitórios] para cometerem vários crimes, principalmente em manipular a Lava Jato. O que mais causou indignação foi o fato de que até o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, fora “persuadido” a colaborar com a presidenta, a nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o STJ.

Professor Luiz Flávio Gomes e Istoé

O  professor e jurista, Doutor em Direito pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Direito Penal pela USP editou artigo [5] sobre a matéria jornalística da Revista Istoé.

"Aécio, Renan, Lobão, Jucá e Raupp teriam também sido citados por Delcídio em sua delação premiada. Se a jornalista da IstoÉ viu isso e só informou parte dos fatos, praticou uma canalhice monstruosa, porque não se apegou à verdade e, ademais, fez todos nós de idiotas. A delação por si só não prova nada (no entanto). Ela é apenas fonte de prova".

Fora do Brasil

Um dos mais conceituados sociólogos da atualidade, Boaventura de Souza Santos, [1] considerou as manifestações ocorridas no domingo [13/02/2016] como "tentativa de golpe parlamentar":

"O que estamos a assistir no Brasil é uma destabilização perigosa que não está a acontecer apenas no Brasil, mas que tem no Brasil uma violência muito especial e que no meu entender neste momento configura um golpe parlamentar".

O sociólogo também afirma que a oposição [direita] está inconformada em ter perdido às eleições de 2014:

"inconformidade das forças da oposição por terem perdido as eleições, facto que não aceitaram democraticamente".

Intervenção externa na política brasileira?

Boaventura declara que há intervenção externa na desestabilização da democracia no Brasil:

"50 anos depois do golpe militar de 1964 em que houve uma forte intervenção estrangeira na destabilização do Brasil, eu suspeito que neste momento voltamos (...) a ter a ajuda de uma intervenção estrangeira, que está também presente na Argentina e Venezuela, refiro-me à interferência dos Estados Unidos".

A reserva de petróleo cobiçada pelos EUA?

Nas palavras do sociólogo, os EUA:

"têm mostrado interesse em que a presidente Dilma deixe de estar à frente do Governo por razões que não têm nada a ver com a questão das politicas públicas, mas com as grandes reservas de petróleo do mar profundo não terem sido privatizadas".

As palavras do sociólogo parecem desconexas, mas é preciso lembrar que os EUA estavam monitorando o Brasil. Tal fato veio à luz das Nações quando Edward Snowden denunciou um dos maiores e mais sofisticados planos de espionagem dos EUA. Também é necessário relembrar que o jornalista norte-americano Glenn Greenwald denunciou que o Brasil era o maior alvo dos EUA. [2]

Se formos comparar o Golpe Militar [1964 a 1985] com os eventos ocorridos desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva à cadeira da Presidência da República, a direita sempre articulou contra a esquerda. As manifestações contra Lula e Dilma, na maioria das vezes, foram desencadeadas por camadas sociais pró-direita.

Lula e FHC juntos para negociar com os EUA

No livro “18 Dias”, de Matias Spektor, a jornalista reconstitui os 18 dias na transição presidencial com documentos inéditos e entrevistas exclusivas. No livro, petistas e tucanos uniram-se para impedir que a direita norte-americana ameaçasse a chegada da esquerda brasileira ao poder. Fernando Henrique Cardoso negociou com o então presidente dos EUA George W. Bush para a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva poder assumir a Presidência da República no Brasil. Matias Spektor evidencia a necessidade de mostrar ao presidente George W. Bush uma visão de que o Brasil não era uma ameaça aos interesses políticos dos EUA, mas potência emergente aos direitos sociais.

“A lista de entrevistados inclui diplomatas, congressistas, ministros, banqueiros, marqueteiros, jornalistas, acadêmicos, colunistas, agentes de inteligência e assessores presidenciais, além de Lula, Fernando Henrique Cardoso e da conselheira de segurança nacional de George W. Bush, Condoleezza Rice”, nota do autor [3]

O que estarrece a qualquer leitor é a narração do jornalista:

“Um periódico de extrema direita acusou a CIA de 'negligência e perfídia' por ter permitido a ascensão de Lula. Um comentarista chamou a eleição do PT de 'o maior fracasso da inteligência norte-americana desde o fim da Segunda Guerra'. Se os Estados Unidos não forem duros com o novo presidente brasileiro, vaticinou, 'George W. Bush terá perdido a América do Sul'.

“A principal artífice do novo pensamento foi Condoleezza Rice, professora de Relações Internacionais da Universidade de Stanford e conselheira de segurança nacional do presidente Bush. Ela desenvolveu a tese após a vitória de Lula em outubro de 2002, enquanto sua equipe preparava o primeiro encontro do recém-eleito com o presidente Bush.

O raciocínio era assim: em temas como finanças, meio ambiente, combate à AIDS e à pobreza, comércio, proliferação nuclear e estabilidade da América do Sul, o Brasil poderia ser um parceiro útil ou um estorvo sério. De uma forma ou de outra, o país estava fadado a afetar em cheio a política externa norte-americana.

Essa lógica mudou a forma como o establishment norte-americano entendia o Brasil. Até então, a preocupação em Washington era se o Brasil abraçaria a concepção de mundo liberal ou não. Agora, o jogo era outro: todos sabiam que o Brasil adotaria um rumo próprio, sem seguir os Estados Unidos a reboque. O desafio era manter o diálogo mesmo assim. Para Rice, o maior risco era a Casa Branca ficar sem interlocução com o Palácio do Planalto”.

A visão dos EUA ao Brasil

Continuando no livro:

“Segundo a perspectiva que passou a ser dominante entre os comentaristas americanos interessados em Brasil, o socialismo do PT era mais uma aspiração moral do que um programa político ou econômico: ninguém no partido tinha admiração a Stalin nem planos reais para estatizar os meios de produção. Em um hipotético governo petista, haveria conselhos de trabalhadores em cada fábrica. Mas a propriedade privada continuaria sendo a base do sistema. A melhor prova era a capacidade do partido de conquistar o apoio da classe média urbana.

Essa imagem benigna ganhou força quando o PT se tornou o partido da ética, liderando a CPI contra a corrupção no governo Collor, que incriminou da ministra da Fazenda à primeira-dama. Na perspectiva dos setores da máquina governamental dos Estados Unidos que lidavam com o Brasil, Lula era uma promessa de superação do legado autoritário.

Segundo essa perspectiva, o PT estava longe de ameaçar a jovem democracia brasileira: ao contrário, era a encarnação do experimento democrático no país”.

Sérgio MoRO

O juiz Sérgio Moro permitiu que as gravações feitas pela Polícia Federal entre Lula e Dilma fossem divulgadas ao público. Para Mouro no “teor dos diálogos gravados, constata-se que o ex-Presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos”.

“Conversa com Dilma [4]

- Dilma: Alô

- Lula: Alô

- Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.

- Lula: Fala, querida. Ahn

- Dilma: Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!

- Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.

- Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

- Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.

- Dilma: Tá?!

- Lula: Tá bom.

- Dilma: Tchau.

- Lula: Tchau, querida”.

No Portal G1 consta a seguinte informação:

“O juiz diz que algumas em algumas conversas se fala, aparentemente, 'em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da Magistratura em favor do ex-Presidente'. Moro ressalta, porém, que não há nenhum indício nas conversas, ou fora delas, de que as pessoas citadas tentaram, de fato, agido 'de forma inapropriada'.

Consequências

Dá a entender, no calor das emoções populares [prisão à Lula e Impeachment de Dilma] que tanto o Ministério Público quanto o STF são possíveis defensores de Lula. Ora, por interesse público, o povo espera que as autoridades do Ministério Público ou da Magistratura se expliquem se houve ou não tentativa de forçá-los a uma negociação contra o Estado Democrático de Direito e a favor de Lula sob consequências severas para a estabilidade democrática.

Continuando no Portal G1, a “ministra Rosa Weber e a presidência do STF informaram que não iriam comentar o caso”. Ora, a permissão de Moura para liberar ao povo as conversações gravadas no momento em que Lula vai ser ministro soa apressado e irresponsável. Por quê? Diante das disputas acirradas entre direita e esquerda, qualquer informação divulgada, sem os devidos cuidados, provoca comoções e revoltas entre os partidários da direita e da esquerda. Tais consequências podem desencadear uma guerra civil. Neste caso, constitucionalmente, poderia ser decretado a convocação das Forças Armadas nas manifestações [violentas] para a manutenção da lei e da ordem. As Forças Armadas podem intervir mediante decisões:

  • Presidente da República;

  • Presidente da Mesa do Congresso Nacional;

  • Presidente do Supremo Tribunal Federal.

E quem iria convocar às Forças Armadas?

Vejamos. A Presidenta da República, Dilma Rousseff é acusa de dar “pedaladas” — violar o Orçamento Público —, as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal são preenchidas por dois cidadãos brasileiros que estão sendo investigados pela Lava Jato, respectivamente, Eduardo Cunha e Renam Calheiros, os magistrados do STF, pelas gravações liberadas pelo juiz Sérgio Moura, e interpretações intempestivas, podem estar em conluios com o PT. Quem, então, decretaria a intervenção militar?

É preciso lembrar, e relembrar, que grupos de civis [empresários e não empresários], e alguns militares, desde que perderam o poder, pelas manifestações “Diretas Já!”, estão muitíssimos descontentes com a democracia promulgada em 1988. Direitos sociais sempre foram considerados assuntos de dominações comunistas pelo “Pão e Circo” — sendo “Pão” distribuídos desde o descobrimento do Brasil. A aristocracia perdeu o trono, não pode mais comer o bolo da corrupção sozinha, quando a esquerda sentou na cadeira da Presidência da República.

É preciso que o povo, sem qualquer bandeira “pró-direita” ou pró-esquerda” fique atento para o quadro caótico no qual vive o Brasil. Há corrupção, Mensalão e Lava Jato, e operações investigativas anteriores as ambas, já demonstraram o conluio promiscuo entre os setores privado e público. Delcídio, com sua delação bombástica, não poupou nenhum partido, nenhuma ideologia política, ou seja, na delação dele, todos são ratos de esgoto.

Se há uma metralhadora selvagem e desesperada de Delcídio contra [suposição, pois nada está comprovado, já que delação não é “bater o martelo do juiz”] os indivíduos [agentes políticos] que não o protegeu, o povo somente terá certeza com o trâmite em julgado, respeitando o devido processo legal.

Que há uma nuvem negra pairando no ar, isto há. Se a democracia sempre foi frágil, mais frágil fica quando há divulgações sem os devidos cuidados, tanto das autoridades quanto dos meios de comunicações. O derrotado de tudo isso é o próprio povo, que se digladia em nome de uma justiça enfadonha partidária ou ideológica. A teia da discórdia está confeccionada e bem esticada para pegar os cidadãos que invocam “justiça” cega.

A história humana é livro educativo que jamais pode ser esquecido, proibido ou distorcido:

"Cuidado com o líder que rufa os tambores da guerra para urgir os cidadãos em fervor patriótico, pois o patriotismo é realmente uma espada de dois gumes. Ele tanto encoraja o sangue, como também encolhe a mente. E quando os tambores da guerra alcançam uma tensão e o sangue ferve com ódio e a mente se fecha, o líder não terá necessidade de assumir as obrigações de cidadão, que infundidos com medo e cegados pelo patriotismo, oferecerão todos os seus direitos para o líder com satisfação. Como vou saber? Por isso, já basta. E eu sou Júlio César." (Júlio César - Imperador romano)

O novo “líder” brasileiro pode ser qualquer pessoa, partido, militar, civil. É preciso agir, mas sem a cegueira de uma guerra civil. E essa guerra é alimentada por muito tempo, entre partidos de esquerda e de direita, entre lobistas e agentes políticos ímprobos. O povo é apenas o soldado de um jogo de xadrez: é lançado em uma guerra bestial à serviço de sanguinários, que só querem continuar ou conquistar o poder pela força ou pela persuasão. No final, a democracia desmorona, o povo perde sua soberania, sua dignidade.

Notas:

[1] — RTP Notícias. Boaventura Sousa Santos: Manifestação no Brasil é "tentativa de golpe parlamentar". Disponível em:http://www.rtp.pt/noticias/mundo/boaventura-sousa-santos-manifestacao-no-brasiletentativa-de-golpe

[2] — UOL. "Brasil é o grande alvo dos EUA", diz jornalista que obteve documentos de Snowden. Disponível em:http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/09/04/brasileo-grande-alvo-dos-eua-diz-jornalista-que-obteve-documentos-de-snowden.htm

[3] — 18 dias: quando Lula e FHC se uniram para conquistar o apoio de Bush / Matias Spektor. - 1. Ed. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

[4] — G1. Moro derruba sigilo e divulga grampo de ligação entre Lula e Dilma. Disponível em:http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/03/pf-libera-documento-que-mostra-ligacao-entre-lulaedilma.html

[5]  — GOMES, Luiz Flávio. JORNALISTA DO VAZAMENTO ISTOÉ, PRESERVANDO AÉCIO, PRATICOU CANALHICE? LULA E FAMÍLIA DENUNCIADOS PELO TRÍPLEX: “QUO VADIS”? Disponível em: http://luizflaviogomes.com/jornalista-do-vazamento-istoe-preservando-aecio-praticou-canalhice-lula-e-familia-denunciados-pelo-triplex-quo-vadis/

Referência:

EBC. Entenda o caso Snowden; Petrobras também é alvo de espionagem. Disponível em:http://www.ebc.com.br/tecnologia/2013/08/web-vigiada-entenda-as-denuncias-de-edward-snowden


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