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O que você seria capaz de fazer para salvar a sua vida?

Um ensaio sobre a Fosfoetanolamina, a droga que vem sendo associada à cura do Câncer

Agenda 18/01/2016 às 09:15

A proteção à nossa vida e à vida das pessoas a quem tanto amamos talvez seja o maior direito que um ser humano possui, ainda acima dos direitos à liberdade e à dignidade.

Se fizermos essa pergunta para um grupo formado por toda a humanidade, excluindo-se os potenciais suicidas e extremistas religiosos, acredito que teremos uma resposta unânime: absolutamente TUDO!

A proteção à nossa vida e à vida das pessoas a quem tanto amamos talvez seja o maior direito que um ser humano possui, ainda acima dos direitos à liberdade e à dignidade.

Não há religião, ciência ou lei que negue isso. Para salvar a minha vida posso fazer literalmente tudo. Até mesmo matar, como acontece nos casos de legítima defesa.

Não há discussão filosófica ou ética que negue a supremacia da vida sobre qualquer outro valor humano. No caso do câncer, a situação consegue ainda se agravar.

Em que pesem os avanços da ciência em inúmeras áreas da medicina, lidar com o câncer e com suas terríveis mazelas deve ser um dos maiores constrangimentos da comunidade médico-científica.

Desde que foi "descoberto", pouca coisa evoluiu no seu tratamento. Doença grave, cruel, incapacitante e praticamente incurável, o câncer coloca a ciência diante do espelho e de sua própria incapacidade de lidar com terapias que atendam aos sonhos de milhões e milhões de pessoas em todo o mundo:

A CURA!

Neste contexto sombrio, eis que surge a Fosfoetalonamina, um experimento fruto de estudos dos geniais profissionais formados ou bancados pela USP, uma das mais conceituadas universidades do mundo, que vem sendo chamado pela mídia - e pela população em geral - pela "modesta" expressão de CURA DO CÂNCER!

O que é, de fato, a Fosfoetalonamina?

Vai ser difícil definir isso. Tenho sido muito cobrado por milhares de pessoas para me manifestar sobre o assunto, mas, por questões de foro muito íntimo, preferi silenciar-me. Até a presente data.

Em uma reunião de trabalho, em nosso escritório, surgiu o assunto. Aproveitei e perguntei à equipe presente se alguém sabia o que seria a Fosfoetalonamina.

Um colega respondeu: "Não é um remédio, é uma cápsula!", afirmou, para minha imediata gargalhada.

O motivo de meu riso imediato não pode e não deve ser considerado como falta de respeito para com a opinião de um membro de minha equipe.

A graça vem do fato de que inúmeros remédios apresentam-se na forma da cápsulas. Logo, ser uma capsula não tira de um produto a condição de remédio.

Mas, então, o que seria a Fosfoetalonamina?

O Reitor da USP, de forma completamente responsável, apressou-se em dizer que a Fosfoetalonamina não é um remédio, e sim um experimento que não passou por qualquer etapa pelo qual todos os medicamentos aprovados passam.

Nem todos sabem, mas para que um remédio seja vendido em farmácias, tem de passar por anos e anos de estudos e testes laboratoriais. Tem de ser testado em vários tipos de cobaias, não somente nos simpáticos Hamsters, devido à sua vida curta, mas em porcos, macacos e outros Beagles, digo, bichos.

Muitos gostariam de testar medicamentos experimentais em advogados, mas a OAB não iria aceitar, já que advogado morto não paga anuidade. Ufa, ainda bem!

Na fase humana, criam-se grupos de teste, estuda-se o efeito placebo. Enfim, são mais anos e anos de espera. E o que é pior: muitas pesquisas podem ser simplesmente "abortadas" por falta de verba ou ...

Logo, conforme disse o funcionário de minha empresa, na reunião, a Fosfoetalonamina deve ser exatamente isso: apenas uma "cápsula".

"Jogaram uma bomba em cima de uma montanha de merda e agora terão de lidar com isso."

Antes que as mentes desavisadas comecem a me ofender, informo que a frase acima, infelizmente, não é de minha autoria. Até pensei em plagiá-la, mas achei tão perfeita, que me sentiria muito culpado se o fizesse.

Ironicamente, é de autoria de um dos maiores oncologistas do país e, por questões de respeito à sua privacidade, não citarei o nome.

Esta frase, todavia, resume com rara felicidade a problemática causada pelo surgimento midiático e atabalhoado da Fosfoetalonamina e o movimento de comoção nacional que se instalou sobre o assunto. Movimento que pode assumir proporções inimagináveis, perigosas e até mesmo incontroláveis.

Há duas semanas, nosso escritório já começou a receber consultas sobre como se conseguir a tal liminar para a "cura do câncer". E isso assusta muito!

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Para a classe médica, mulheres e homens sérios, estudiosos que dedicam suas vidas a lidar com uma das mais cruéis doenças do mundo, a Fosfoetalonamina é uma insanidade criada pela mídia, que pode atrapalhar, e muito, o tratamento convencional de milhares de pacientes.

Para os laboratórios, que ganham bilhões e bilhões de dólares com a venda de drogas predominantemente paliativas, a remota possibilidade de a Fosfoetalonamina ser associada à cura do câncer, sem que detenham a sua patente, é o pior pesadelo possível!

Não consigo, entretanto, imaginar o que devem pensar os pesquisadores e cientistas independentes. Eles lutam por recursos, que muitas vezes chegam na forma de moedas, de migalhas despejadas sobre suas mesas, que são totalmente insuficientes para subsidiar qualquer pesquisa séria, tornando suas descobertas ainda mais heróicas, frutos de muita fé e de muita perseverança.

Submetem-se a uma gincana burocrática de protocolos. Levam anos e anos para verem seus estudos serem aprovados ou simplesmente abandonados, por falta de verbas e interesse político ou financeiro.

A opinião que realmente importa, contudo, é a daqueles que se encontram em seus leitos, sofrendo, agonizando, implorando pela cura ou pela morte, a que vier primeiro.

A opinião que importa, também, é a dos entes queridos, que veem as pessoas tão amadas sofrendo e definhando, sem que a ciência nada possa fazer.

Seja uma insanidade, um pesadelo ou seja, simplesmente, uma cápsula, do ângulo de quem tem pouco ou nada a perder, a Fosfoetalonamina representa simplesmente tudo.

Ela representa a esperançaE ninguém tem o direito de negar a um semelhante o direito à esperança!

O método científico convencional ainda é muito lento. A aprovação de um medicamento pela ANVISA (leia-se FDA) é ainda mais vagarosa, pois é suscetível à influência de diversas variáveis, principalmente às ligadas aos interesses econômicos e à burocracia de um Estado que não funciona.

Quantas pessoas morreram ou foram internadas como loucas, em depósitos de lixo humano - os hospícios - , enquanto alguns antidepressivos, hoje tidos como plenamente eficazes, eram aplicados em macacos, aguardando seu protocolo de testes?

Quantos anos levaram para se aceitar os efeitos mágicos da acupunturaQuem está agonizante, à beira da morte, sofrendo com o câncer e todas as suas mazelas adjacentes, não tem tempo.

Fosfoetalonamina não foi criada acidentalmente em um laboratório de refino de drogas, por estudantes chapados e curiosos. Também não se trata de uma poção mágica utilizada em um ritual de bruxaria ou de magia negraEsse experimento vem sendo estudado há anos, dentro da USP, uma instituição respeitada internacionalmente, um celeiro de gênios, nossa Harvard brasileira.

O motivo pelo que não obteve verbas para que se gerasse uma patente, este sim, é um mistério que ainda não tenho como responder. Será que algum megalaboratório investiria bilhões para curar uma doença cuja existência lhes gera bilhõesEssa é uma pergunta para fins de reflexão, não uma acusação!

Sou hipertenso. Faço uso diário de medicamentos que controlam minha pressão. Acredito na ciência e nunca, nem em um momento de loucura, eu tentaria desqualificar a importância dos métodos científicos. Mas quando o assunto é VIDA OU MORTE, certos aspectos éticos devem ser relativizados.

Por toda a responsabilidade que eu tenho com tudo o que escrevo, devo alertar: a Fosfoetalonamina pode não ser o Santo Graal da cura do câncer.

Existe grande chance dessa substância ser inócua, ou seja, de não servir para absolutamente nada, para a grande maioria das pessoas.

É possível que os casos de melhoras e curas relatados sejam motivados pelo conhecido efeito placebo, fenômeno que faz a mente das pessoas auxiliar no processo de cura, por acreditarem que estão tomando algo milagroso ou eficaz! Ou seria o nome que a ciência dá quando não consegue explicar um milagre de Deus?

Todavia, existe uma possibilidade ainda pior: a Fosfoetalonamina pode não ser apenas inócua, mas absolutamente lesiva.

É possível que o uso imediato ou prolongado cause diversos males e efeitos colaterais, levando a situações ainda mais graves e desesperadoras que aquelas em que o paciente se encontra ou, até mesmo, à morte!

Não há qualquer dúvida de que o surgimento da Fosfoetalonamina seja uma das maiores encruzilhadas ético-religiosa-científicas da história recente da medicina. O que nos devolve rapidamente à metáfora da bomba jogada sobre uma montanha de merda. 

Vamos assistir, todos, à uma bizarra e cruel situação. Sabiam que um dos períodos em que a medicina mais evoluiu na história da humanidade foi durante o NazismoO completo desrespeito e desdém para com a vida humana não-ariana proporcionou aos médicos de Hitler a realização do sonho escondido e promíscuo de todo pesquisador: usar cobaias humanas em seus experimentos.

Todos a quem a SS nazista perseguia, quando capturados, eram transformados em "material de pesquisa". Sem protocolos, sem ética, sem escrúpulosIrônica e cruelmente, essa droga aparentemente ressuscitará um dos sonhos de Adolf Hitler, que sorri no inferno, ao assistir à interminável fila de candidatos a cobaias humanas, que se acotovelarão para testar a Fosfoetalonamina, como sua derradeira esperança.

As hienas alimentam-se de fezes e corpos em decomposição. Mesmo assim, sorriem o tempo inteiro.

Pare de sorrir, Adolf Hitler! As pessoas que usarem a Fosfoetalonamina o farão de forma voluntária e não sob o julgo da covardia e da violência. E o farão motivadas por um sentimento que nasce da comunhão com Deus, algo que você tentou tirar de milhões de pessoas: o direito de sonhar!

polêmica está lançada! E aumenta a cada segundo. Em 1885, uma criança foi mordida diversas vezes por um cão, contaminado pela doença da raiva, adoecendo em estado crítico, quase terminal.

Diante da iminente morte de seu filho, a mãe do menino procurou um homem, que nem médico era, mas que estaria desenvolvendo uma suposta vacina para a doença. A droga somente havia sido testada em animais.

O tal "curandeiro", mesmo se arriscando a ser preso, pois não tinha licença para medicar, já que era "apenas" um químico, aplicou a vacina e a criança veio a sobreviverApresento a vocês Louis Pasteur, criador da vacina anti-rábica, um dos homens mais importantes do mundo, que salvou inúmeras vidas.

Somente o tempo vai dizer o que de fato é a Fosfoetalonamina. Cura ou maldição! Esperança ou insanidade! Ou simplesmente uma cápsula! Somente o tempo.

Esse mesmo tempo que é tão escasso e curto para aqueles que aguardam, em agonia, a chegada da morte - que será, para muitos, um alívio ao sofrimento infligido pelo câncer aos seus corpos.

Gostaria de concluir estas minhas longas palavras respondendo, eu mesmo, à pergunta-título destas humildes considerações: o que você seria capaz de fazer para salvar a sua vida? Ou a vida daqueles a quem ama?

Eu faria tudo, absolutamente tudo! E vocês?

Sobre o autor
André Mansur Brandão

Advogado da André Mansur Advogados Associados (Minas Gerais). Administrador de Empresas. Escritor.Saiba mais sobre nossa empresa em: http://andremansur.com/portfolio/

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