V – FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO – FAP. INSTRUMENTO DE CALIBRAGEM NO PAGAMENTO DO RAT AJUSTADO. USO REFLEXO DE SEUS RESULTADOS PARA ESTABELECIMENTO DO RAT INICIAL.
Inobstante haver subsídios suficientes à modificação do RAT, nos moldes defendidos, é importante frisar o comportamento dos estabelecimentos comerciais do segmento mercantil ALOJAMENTO e ALIMENTAÇÃO, em relação ao Fator Acidentário de Prevenção - FAP, de que trata o art. 202-A do Decreto nº 3.048/1999, introduzido pelo Decreto nº 6.042/2007.
O art. 202-A, em alusão, possui a seguinte redação:
Art. 202-A. As alíquotas constantes nos incisos I a III do art. 202 serão reduzidas em até cinqüenta por cento ou aumentadas em até cem por cento, em razão do desempenho da empresa em relação à sua respectiva atividade, aferido pelo Fator Acidentário de Prevenção - FAP.
§ 1º O FAP consiste num multiplicador variável num intervalo contínuo de cinco décimos (0,5000) a dois inteiros (2,0000), aplicado com quatro casas decimais, considerado o critério de arredondamento na quarta casa decimal, a ser aplicado à respectiva alíquota.
§ 2º Para fins da redução ou majoração a que se refere o caput, proceder-se-á à discriminação do desempenho da empresa, dentro da respectiva atividade econômica, a partir da criação de um índice composto pelos índices de gravidade, de frequência e de custo que pondera os respectivos percentis com pesos de cinquenta por cento, de trinta cinco por cento e de quinze por cento, respectivamente.
§ 3º (Revogado)
§ 4º Os índices de freqüência, gravidade e custo serão calculados segundo metodologia aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social, levando-se em conta:
I - para o índice de freqüência, os registros de acidentes e doenças do trabalho informados ao INSS por meio de Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT e de benefícios acidentários estabelecidos por nexos técnicos pela perícia médica do INSS, ainda que sem CAT a eles vinculados;
II - para o índice de gravidade, todos os casos de auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e pensão por morte, todos de natureza acidentária, aos quais são atribuídos pesos diferentes em razão da gravidade da ocorrência, como segue:
a) pensão por morte: peso de cinquenta por cento;
b) aposentadoria por invalidez: peso de trinta por cento; e
c) auxílio-doença e auxílio-acidente: peso de dez por cento para cada um; e
III - para o índice de custo, os valores dos benefícios de natureza acidentária pagos ou devidos pela Previdência Social, apurados da seguinte forma:
a) nos casos de auxílio-doença, com base no tempo de afastamento do trabalhador, em meses e fração de mês; e
b) nos casos de morte ou de invalidez, parcial ou total, mediante projeção da expectativa de sobrevida do segurado, na data de início do benefício, a partir da tábua de mortalidade construída pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE para toda a população brasileira, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos.
Já a Resolução nº 1.329, de 25 de abril de 2017[1], expedida pelo Conselho Nacional de Previdência, traz que o objetivo do FAP é “incentivar a melhoria das condições de trabalho e de saúde do trabalhador, estimulando os estabelecimentos a implementarem políticas mais efetivas de saúde e segurança no trabalho.”
O FAP, portanto, é um prêmio àquele estabelecimento comercial/industrial que incrementa ações mitigadoras dos acidentes de trabalho e, ao contrário, sanciona aquele que não adota práticas de segurança e saúde do trabalho ou, se as adota, não são suficientes/ineficazes para o controle dos infortúnios, razão pela qual é elevado seu FAP.
Retornando ao RPS, o § 2º do art. 202-A informa que o FAP se origina pelos índices de gravidade, frequência e custo, calculados pelos respectivos percentis na ponderação de 50%, 35% e 15%.
Examinando as Portarias que dispõem sobre os índices de frequência, gravidade e custo, por atividade econômica, entre os anos de 2010 e 2018, constata-se existência de atividades ligadas ao segmento mercantil ALOJAMENTO e ALIMENTAÇÃO com redução nos percentis, sendo de 27,7% nos percentis de frequência, 18,43% nos percentis de gravidade e 24,59% nos percentis de custo. Considerando as ponderações de 50%, 35% e 15%, conclui-se que houve uma redução, no conjunto, de 24%.
Percentis de Frequência dos últimos 9 anos
CNAE |
Percentis de Frequência |
Redução |
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
P2010 |
P2011 |
P2012 |
P2013 |
P2014 |
P2015 |
P2016 |
P2017 |
P2018 |
||
5510801 |
48,07 |
45,39 |
44,78 |
33,97 |
34,13 |
34,80 |
35,57 |
41,27 |
39,51 |
17,81% |
5510802 |
39,51 |
20,31 |
31,85 |
24,23 |
18,99 |
21,02 |
17,84 |
25,31 |
29,19 |
26,12% |
5590601 |
45,91 |
5,22 |
14 |
27,24 |
9,32 |
9,60 |
21,47 |
19,96 |
9,42 |
79,48% |
5590603 |
36,88 |
38,48 |
31,38 |
21,7 |
17,72 |
19,99 |
22,81 |
26,18 |
25,8 |
30,04% |
5590699 |
34,49 |
29,91 |
36,14 |
20,03 |
18,27 |
18,42 |
15,32 |
15,81 |
16,03 |
53,52% |
5611201 |
41,98 |
34,51 |
33,76 |
30,72 |
32,38 |
32,83 |
32,26 |
35,36 |
35,65 |
15,08% |
5611202 |
39,89 |
34,12 |
33,04 |
25,74 |
26,44 |
23,22 |
22,1 |
27,14 |
25,48 |
36,12% |
5611203 |
36,03 |
31,74 |
32,64 |
25,89 |
28,58 |
30,07 |
31,31 |
36,32 |
35,41 |
1,72% |
5612100 |
65,20 |
40,86 |
59,54 |
50,04 |
46,18 |
40,86 |
35,25 |
41,66 |
25,88 |
60,3% |
5620101 |
84,65 |
89,52 |
87,46 |
85,27 |
87,55 |
87,87 |
83,62 |
84,28 |
83,54 |
1,31% |
5620102 |
33,64 |
38,96 |
31,69 |
34,13 |
36,43 |
40,07 |
40,77 |
43,42 |
40,14 |
19,32%* |
5620103 |
78,47 |
61,66 |
48,19 |
92,00 |
84,94 |
73,78 |
75,11 |
75,42 |
73,93 |
5,78% |
Percentis de Gravidade dos últimos 9 anos
CNAE |
Percentis de Gravidade |
Redução |
||||||||
P2010 |
P2011 |
P2012 |
P2013 |
P2014 |
P2015 |
P2016 |
P2017 |
P2018 |
||
5510801 |
44,29 |
41,69 |
42,91 |
40,27 |
39,72 |
38,77 |
38,47 |
39,15 |
40,74 |
8,01% |
5510802 |
49,61 |
36,73 |
47,85 |
44,81 |
36,37 |
30,07 |
26,1 |
36,93 |
46,28 |
6,71% |
5590601 |
61,27 |
13,85 |
36,21 |
56,44 |
16,23 |
15,04 |
41,4 |
41,22 |
28,62 |
53,29% |
5590603 |
42,90 |
61,05 |
37,96 |
37,96 |
31,92 |
34,42 |
42,59 |
41,69 |
36,06 |
15,94% |
5590699 |
46,06 |
42,57 |
54,07 |
33,35 |
32,63 |
29,12 |
27,84 |
26,38 |
30,99 |
32,72% |
5611201 |
41,36 |
38,57 |
34,77 |
38,60 |
40,28 |
41,30 |
39,9 |
39,47 |
40,03 |
3,21% |
5611202 |
40,51 |
37,29 |
46,58 |
39,08 |
36,45 |
35,52 |
30,62 |
36,06 |
38,52 |
4,91% |
5611203 |
32,64 |
28,57 |
26,8 |
29,92 |
29,84 |
32,05 |
30,46 |
32,01 |
33,21 |
1,74%* |
5612100 |
68,83 |
54,49 |
59,89 |
51,98 |
41,47 |
35,29 |
41,96 |
47,48 |
37,02 |
46,21% |
5620101 |
81,94 |
79,44 |
76 |
71,41 |
71,41 |
71,92 |
68,76 |
67,24 |
65,62 |
19,91% |
5620102 |
52,78 |
53,45 |
43,39 |
45,53 |
42,67 |
44,31 |
47,11 |
46,45 |
51,36 |
2,69% |
5620103 |
88,66 |
39,29 |
42,35 |
72,84 |
75,23 |
73,26 |
64,64 |
69,14 |
64,11 |
27,59% |
Percentis de Custo dos últimos 9 anos
CNAE |
Percentis de Custo |
Redução |
||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
P2010 |
P2011 |
P2012 |
P2013 |
P2014 |
P2015 |
P2016 |
P2017 |
P2018 |
||
5510801 |
66,82 |
51,77 |
59,95 |
59,31 |
50,15 |
43,52 |
48,3 |
48,33 |
47,87 |
28,36% |
5510802 |
50,00 |
44,65 |
41,77 |
73,56 |
46,33 |
46,29 |
41,17 |
42,6 |
35,75 |
28,5% |
5590601 |
79,55 |
15,37 |
36,34 |
25,62 |
19,41 |
18,76 |
27,45 |
23,92 |
12,53 |
84,25% |
5590603 |
65,35 |
65,85 |
47,75 |
28,97 |
41,55 |
78,17 |
81,76 |
66,37 |
47,71 |
26,99% |
5590699 |
53,94 |
51,13 |
71,28 |
50,39 |
38,92 |
37,19 |
35,62 |
46,58 |
42,17 |
21,82% |
5611201 |
65,05 |
49,29 |
43,36 |
47,76 |
47,84 |
51,98 |
51,79 |
50,55 |
46,05 |
29,21% |
5611202 |
42,67 |
64,41 |
75,91 |
59,07 |
59,15 |
51,59 |
43,23 |
44,27 |
49,45 |
15,89%* |
5611203 |
38,66 |
40,41 |
38,02 |
46,17 |
44,97 |
48,74 |
45,29 |
43,4 |
43,12 |
11,53%* |
5612100 |
67,44 |
62,81 |
55,33 |
54,37 |
40,83 |
23,82 |
54,41 |
49,44 |
47,39 |
29,73% |
5620101 |
84,72 |
80,16 |
79,42 |
74,92 |
75,15 |
66,70 |
66,62 |
67,41 |
62,53 |
26,19% |
5620102 |
59,80 |
51,45 |
89,79 |
67,03 |
55,96 |
41,94 |
41,72 |
46,1 |
54,6 |
8,69% |
5620103 |
79,86 |
60,73 |
55,81 |
73 |
67,27 |
78,80 |
75,58 |
69,95 |
70,77 |
11,38% |
Legenda[4]:
P2010 |
PORTARIA Nº 451, DE 23 DE SETEMBRO DE 2010 (DOU DE 24/09/2010) |
P2011 |
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 579, DE 23 DE SETEMBRO DE 2011 (DOU DE 26/09/2011) |
P2012 |
PORTARIA INTERMINISTERIAL MPS/MF Nº 424, DE 24 DE SETEMBRO DE 2012 (DOU DE 25/09/2012) |
P2013 |
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 413, DE 24 DE SETEMBRO DE 2013 (DOU DE 25/09/2013) |
P2014 |
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 438, DE 22 DE SETEMBRO DE 2014 (DOU DE 24/09/2014) |
P2015 |
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 432, DE 29 DE SETEMBRO DE 2015 (DOU DE 30/09/2015) |
P2016 |
PORTARIA Nº 390, DE 28 DE SETEMBRO DE 2016 (DOU DE 30/09/2016) |
P2017 |
PORTARIA Nº 420, DE 27 DE SETEMBRO DE 2017 (DOU DE 28/09/2017) |
P2018 |
PORTARIA Nº 409, DE 20 DE SETEMBRO DE 2018 (DOU DE 21/09/2018) |
* |
Houve, nesses casos, aumento nos percentis |
Evidencia-se, assim, que o número de acidentes de trabalho nas pessoas jurídicas classificadas nos segmentos mercantis ALOJAMENTO e ALIMENTAÇÃO teve substantiva retração nos últimos nove anos, e que embora o FAP interfere somente no RAT ajustado, pode servir como indicativo positivo para revisão do RAT dos mesmos, uma vez que não estão presentes elementos que configurem a continuidade em patamares previstos atualmente no RPS.