O planejamento estratégico na prevenção de acidentes no trabalho: todos saem ganhando

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28/01/2015 às 12:47
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4.. OS FATORES GERADORES E AS PRINCIPAIS CAUSAS DOS ACIDENTES DO TRABALHO

Conforme Barros Jr.(apud MENDES, 2011, p. 9) à respeito do acidente do trabalho,

O acidente de trabalho é um dos principais focos de atenção do Ministério do Trabalho e Emprego. Preveni-lo, evitá-lo, eliminar a possibilidade de sua ocorrência são nossas prioridades. Um acidente de trabalho causa sofrimentos à família, prejuízos à empresa e ônus incalculáveis ao Estado. Tais eventos não devem ocorrer, essa é uma de nossas regras fundamentais. Um acidente começa muito antes da concepção do processo de produção e da instalação de uma empresa. O projeto escolhido, as máquinas disponibilizadas e as demais escolhas prévias já influenciam a probabilidade de acidentes de trabalho.

Segundo a NBR 14280 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, os acidentes são ocasionados pelos três fatores a seguir:

  • Fator pessoal de insegurança ou fator pessoal: causa relativa ao comportamento humano, que pode levar à ocorrência do acidente ou prática do ato inseguro. Ex:. Falta de conhecimento, falta de experiência ou de especialização, fadiga, alcoolismo e toxicomania, etc.
  • Ato inseguro: ação ou omissão que, contrariando preceito de segurança, pode causar ou favorecer a ocorrência de acidente. Ao ato inseguro é a causa fundamental da maioria dos acidentes. Alguns estudiosos atribuem percentual superior a 90% aos fatores ligados à falha humana. Ex:. Usar equipamento de maneira imprópria, usar material ou equipamento fora de sua finalidade, sobrecarregar (elevadores, andaimes, veículos, etc.), trabalhar ou operar à velocidade insegura, correr, saltar de ponto elevado de veículo ou de plataforma, etc.
  • Condição ambiente de segurança (condição ambiental insegura): é a condição do meio que causou o acidente ou contribuiu para que o mesmo ocorresse. Incluem desde a atmosfera do local de trabalho até as instalações, equipamentos, substâncias e métodos de trabalho empregados.            

Principais causas dos acidentes no trabalho

Estudos nacionais e internacionais informam que a maioria dos acidentes e das doenças decorrentes do trabalho ocorrem, segundo Damasceno (2005, p.55), principalmente por:

  • Falta de planejamento e gestão gerencial compromissada com o assunto;
  • Descumprimento da legislação;
  • Desconhecimento dos riscos existentes no local de trabalho;
  • Inexistência de orientação, ordem de serviço ou treinamento adequado;
  • Falta de arrumação e limpeza;
  • Utilização de drogas no ambiente de trabalho;
  • Inexistência de avisos, ou sinalização sonora ou visual sobre os riscos;
  • Prática do improviso (jeitinho brasileiro) e pressa;
  • Utilização de máquinas e equipamentos ultrapassados ou defeituosos;
  • Utilização de ferramentas gastas ou inadequadas;
  • Iluminação deficiente ou inexistente;
  • Utilização de escadas, rampas e acessos sem proteção coletiva adequada;
  • Falta de boa ventilação ou exaustão de ar contaminado;
  • Existência de radiação prejudicial à saúde;
  • Utilização de instalações elétricas precárias ou defeituosas;
  • Presença de ruídos, vibrações, calor ou frio excessivos; e
  • Umidade excessiva ou deficitária.

5. A GESTÃO ESTRATÉGICA E A PREVENÇÃO DOS ACIDENTES NO TRABALHO

A incorporação das boas práticas através de uma gestão estratégica a fim de garantir a saúde e segurança no trabalho, contribuir para uma maior proteção contra os riscos presentes no ambiente laboral, prevenindo e reduzindo os acidentes e doenças, pode resultar em uma significativa redução de custos e prejuízos e, por consequencia, tornar a empresa mais competitiva.

Além da redução dos custos, a gestão pode, através de um planejamento estratégico, ainda criar estratégias de auxílio na sensibilização de todos, desenvolvendo uma consciência coletiva de respeito à integridade física e melhoria contínua do ambiente laboral.

5.1. A estratégia

Estratégia, para Quinn (apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2006, p. 29), é “o padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequência de ações de uma organização em um todo crescente”.

Considera-se como meta (ou objetivo) os resultados almejados, bem como a delimitação temporal para que eles sejam atingidos; Considera-se como políticas as regras ou diretrizes que expressam os limites dentro dos quais as ações devem ocorrer, e; Considera-se como programas, a sequência de etapas, ou o passo a passo das ações necessárias ao alcance dos principais objetivos e expressam como serão alcançados dentro dos limites pré-estabelecidos pela política.

A seguir, pode-se apreciar um gráfico sintetizando um plano básico:

img 2x

Fonte: SELEME (2011) com adaptações feitas pela autora

Para que se torne possível a elaboração de um plano é necessário que, preliminarmente seja feita a análise das condições de trabalho e avaliação dos riscos à fim saber-se como a empresa está no momento em relação ao que se intenciona mudar. Um exemplo básico, no caso da segurança no trabalho, seria:

  • O diagnóstico inicial para se conhecer as características da empresa, de seus trabalhadores, bem como do ambiente de trabalho;
  • Mapeamento dos processos de produção e das atividades relacionadas para que se conheça suas principais etapas;
  • Avaliação dos riscos para identificação das fontes de perigo e estimar os riscos a elas associados;
  • Identificação das medidas preventivas existentes e sua eficácia no que se relaciona à proteção coletiva e individual, organização do trabalho, higiene e conforto;
  • Conhecimento dos indicadores de saúde, indicados pelas queixas dos trabalhadores, acidentes ocorridos, doenças diagnosticadas e causas mais frequentes de ausência ao trabalho;
  • Identificação dos requisitos legais e outros, à fim de verificar-se a situação em que a empresa  encontra-se em relação à legislação e aos acordos e/ou contratos firmados;
  • Elaboração do mapa de riscos.

Avaliação e mapeamento dos riscos

O local de trabalho constitui a área de ação da higiene do trabalho, envolvendo aspectos ligados à exposição do organismo humano à agentes externos, como o ruído, a temperatura, a umidade, a luminosidade e os equipamentos de trabalho (WACHOWICZ,2007, p.1).

No que se relaciona à avaliação dos riscos, é necessário preliminarmente estimar-se e/ou quantificar a magnitude dos riscos existentes no ambiente, a fim de se decidir se os mesmos são ou não toleráveis.

Os riscos ambientais são tecnicamente classificados como:

  • Riscos físicos – Os agentes ou fatores ambientais que podem provocar danos são: Ruídos, vibrações, radiações, frio, calor, pressões anormais e umidade;
  • Riscos químicos -           Os agentes são substâncias que podem contaminar o ambiente e provocar danos são: Poeira, fumo, névoa, neblina, gases, vapores, substâncias, compostos, outros produtos químicos, etc...
  • Riscos biológicos – Os agentes estão relacionados ao contato do trabalhador com vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas, bacilos e outros microrganismos;
  • Riscos ergonômicos – Os fatores estão relacionados à tarefas, à organização e às relações laborais, ao esforço intenso, levantamentos e transportes manuais de peso, mobiliário inadequado, posturas incorretas, controle rígido de tempo para a produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turnos e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia, repetitividade, situações causadoras de estresse, etc...
  • Riscos de acidentes – Os fatores estão relacionados aos arranjos físicos inadequados, pisos irregulares, material ou matéria-prima fora de especificação, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas impróprias ou defeituosas, iluminação inadequada, instalações elétricas com defeitos, possibilidade de incêndio ou explosão, armazenamentos inadequados, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes.

Uma modalidade simples que compõem a avaliação preliminar é o Mapa de Riscos, que é a representação gráfica, conforme tabela de classificação dos riscos ambientais, inserida sobre a planta de layout do ambiente laboral; nele são representados por meio de círculos de diferentes cores (que representam o tipo de risco) e diferentes tamanhos (que representam a gravidade ou intensidade) os riscos aos quais os trabalhadores estarão expostos. Dentro dos círculos deve ser anotado o número de trabalhadores expostos, a especificação do agente (Ex:. amônia, repetitividade, ritmo excessivo, ...).

Um dos benefícios do mapeamento dos riscos é a facilitação da gestão da saúde e da segurança no trabalho e da conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de proteção individual (dispositivo de uso individual à proteção de uma pessoa) e coletiva (medida ou dispositivo, sinal, imagem, som, instrumento ou equipamento destinado à proteção de uma ou mais pessoas), que se constituem em itens legalmente obrigatórios na prevenção de acidentes.

Alguns questionamentos que poderão auxiliar no levantamento dos riscos são:

  • O empregado está exposto à fontes de perigo?
  • O empregado está em contato com a fonte de perigo?
  • Qual o tempo e a frequência de contato entre o trabalhador e a fonte de perigo?

Quanto maior for o tempo e/ou frequência de exposição ou contato com a fonte de perigo, maior será o risco.

  • Qual a distância entre o trabalhador e a fonte de perigo?

Quanto mais próximo o trabalhador da fonte de perigo, maior será o risco.

Para as avaliações quantitativas é necessário o uso de um método científico e a utilização de instrumentos e equipamentos apropriados para a medição dos riscos.

Feita a análise preliminar das condições de trabalho, é possível definir os objetivos e as metas, em consonância com “o aonde” a diretoria da empresa quer chegar, em relação à saúde e à segurança no trabalho.

Uma vez definidos os objetivos e as metas, é necessário programar as etapas em que esse processo se dará, bem como a sequência de realizações necessárias ao seu cumprimento, tudo dentro dos limites estabelecidos.

Algumas etapas sugeridas por Damasceno (2005, p.18) para este processo seriam:

  • Controle operacional, medição e monitoramento, para estabelecer o ciclo básico de gerenciamento de saúde e segurança no trabalho, constituído pelos seguintes passos: reconhecimento, antecipação, avaliação, prevenção e controle;
  • Implementação dos programas de gestão, para atingir os objetivos e metas estabelecidos na etapa anterior, às pessoas responsáveis, os recursos envolvidos e os prazos; e
  • Tratamento de desvios, incidentes, acidentes, doenças, ações emergenciais, corretivas e preventivas ou mitigadoras, para garantir que a gestão de saúde e a segurança no trabalho estão implementadas e mantidas na empresa.

5.1.1. Eficiência da estratégia

Para que a estratégia seja eficiente, segundo Seleme (2011, p.5) é necessário que as seguintes condições sejam contempladas:

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  • Objetivos claros, decisivos e diretos;
  • Impacto motivacional;
  • Consistência e iniciativa;
  • Compatibilidade com o ambiente;
  • Horizonte de tempo;
  • Flexibilidade e liderança.

Um bom ambiente de trabalho contribui para o aumento de produtividade porque permite o planejamento da produção e o facilita a execução do mesmo, melhora a comunicação interna e as relações de trabalho, aumenta a confiança e alicerça o comprometimento de todos e a cooperação.

Enfim, no sentido mais amplo da palavra, todos têm a ganhar com um bom planejamento estratégico com visão em melhorar as condições do ambiente laboral.

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Sobre a autora
Darcilene Júlio Moreira

Com mais de uma década de experiência em Avaliações e Perícias, Darcilene J. Moreira é Engenheira Civil, com pós em Engenharia de Produção e especializanda em Engenharia de Segurança do Trabalho, bem como, membro integrante do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias do Rio Grande do Sul (IBAPE - RS).<br><br>Serviços:<br><br> <br>Vistoria técnica para levantamento das características e das condições dos bens avaliandos, para estimativa da vida útil dos mesmos;<br><br>Pesquisa de mercado e utilização de ferramental matemático da estatística inferencial para elaboração de relatório de cálculos avaliatórios, que levam em consideração as características relevantes à formação de valor dos bens; <br><br>Avaliação de valor locatício de imóveis, considerando-se o mercado e as características relevantes à formação do valor;<br><br>Inventário de bens e avaliação do ativo imobilizado;<br><br>Laudos periciais diversos. - Ex: Laudo de Medidas e confrontações, Laudo de inspeção Predial, Laudo de vistoria, Laudo de avaliação, Pareceres técnicos, etc.<br><br>Estudo de viabilidade de empreendimentos;<br><br>Inspeção predial como medida de prevenção;<br><br>Estudos de tendência para estimativas futuras com base em ocorrências no passado (com obtenção de modelagem matemática com apoio da estatística inferencial). - Ex: Estudo estimativo do número de invasões (por ocupação humana) de grandes áreas, com base na curva de tendência, obtida através de dados observados através de imagens históricas de satélite; Estudo estimativo quantitativo da degradação ambiental futura, com base em dados históricos do passado;<br><br> Cálculos estatísticos - inferenciais;<br><br>Planta genérica de valores; <br><br>Consultoria ambiental; <br><br>Vistoria de imóveis para identificação e análise de fenômenos (fissuras, trincas, rachaduras, infiltrações, etc...) que podem provocar a redução da vida útil do imóvel e colocar em prejuízo a integridade física do bem e/ou pessoas;<br><br>Assistência técnica em processos judiciais nas áreas de avaliação e perícias de engenharia;<br><br>Demais trabalhos relativos à avaliações e perícias de engenharia.<br><br>Contato: 53 30353021 e 53 81460936.<br>[email protected]<br>Visite nossa página: darcilenejm.wix.com/pericias<br>

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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